Toda vez que um ciclo de concentração de riquezas começa, uma guerra cultural vem junto com ele. Então, é preciso criar uma narrativa que justifique essa concentração.
O inimigo é atualizado de tempos em tempos. Na Europa da Idade Média eram as bruxas. Mulheres que detinham saberes tradicionais. Camponesas, parteiras, curandeiras.
Desta vez, quem é que vai queimar na fogueira?
O novo ciclo de expansão do agronegócio só é possível se forem criadas perseguições simbólicas e práticas que dividam as classes baixas e médias. Que dividam os povos indígenas.
Criar a ideia de que as mulheres eram seres malignos quebrou a solidariedade entre os pobres, abriu uma guerra cultural contra modos de pensar diferente e fez do corpo uma simples ferramenta de trabalho.
A caça às bruxas foi a primeira perseguição na Europa a se valer de uma máquina de propaganda com o objetivo de criar uma espécie de psicose na população.
Isso te lembra alguma coisa?
Isso te lembra alguma coisa?
A Igreja também teve seu papel fundamental nesse processo. Hoje, é principalmente a instituição igreja evangélica quem faz as vezes da perseguição. Há uma irritação com a defesa da reforma agrária e de governos latino-americanos de esquerda.
Missionários avançam sobre indígenas isolados com a crença de que somente a conversão da humanidade como um todo é que pode nos salvar.Esse é mais um ponto em que a ofensiva financeira encontra uma legitimação religiosa.
Também os conflitos mais recentes e as medidas adotadas pelo Governo Federal não deixam dúvidas de que as terras indígenas são a bola da vez pro agronegócio.
No fim, é a própria vida humana que representa a bruxa. A simples existência de mulheres, negros, pobres, mesmo sem resistência, se transforma na inimiga maior desse sistema ávido por acumulação.
O Governo Federal de Jair Bolsonaro (2018-2022) adota uma necropolítica que não deixa de dar as mãos pros mecanismos do capital, a pleno vapor desde a Idade Média.