Fome e agronegócio:

Fome e agronegócio:

como explicar essa relação?

“O agronegócio brasileiro alimenta um bilhão de pessoas.”

Só que não. Nem é preciso ir longe para checar a realidade: em 2022, qualquer brasileiro está a alguns passos de um outro brasileiro passando fome – se é que ele mesmo não está passando fome.

O agronegócio produz milhões de toneladas de grãos (soja e milho à frente) e de carnes. Mas, cada vez mais, o sistema de produção em larga escala é contestado não apenas por descumprir a promessa de erradicar o problema da fome, como por potencializar essa questão.

Como é possível?

Num país como o Brasil, a agricultura familiar tem um papel fundamental na produção dos alimentos mais consumidos. Nos últimos anos, tornou-se mais clara a competição do agronegócio por áreas de florestas públicas, terras indígenas e… agricultura familiar.

Pequenos produtores relatam como tem sido difícil permanecer na terra, seja por pressão econômica, seja por violência, grilagem e ameaças.

Mas essa perda foi bastante desigual. A agricultura familiar foi reduzida em 2,2 milhões de trabalhadores, ao passo que a agricultura não familiar teve aumento de 703 mil vagas. Um dos fatores é a maior mecanização do trabalho, em especial o crescimento do número de tratores.

O Brasil perdeu  1,5 milhão de postos de trabalho rurais entre 2006 e 2017.

Mas a perda de áreas da produção de alimentos, convertidas para a produção de commodities, também tem um papel nessa equação.

Além desses fatores, tem um outro muito importante e essencial para o sucesso do agronegócio: acesso ao financiamento público. Além de poder recorrer ao Plano Safra, o agro tem à disposição uma série de mecanismos do mercado financeiro que já se tornaram até maiores que o montante de dinheiro governamental.

As atividades mais financiadas pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) em 2020 foram a bovinocultura e a soja (59,9%) e a produção de milho (14,4%). Já para a produção de arroz e feijão foram destinados apenas 2,53% dos recursos do Pronaf Custeio Geral.

A desvalorização do real, ocorrida nos últimos anos, também ajudou a tornar os produtos do agronegócio ainda mais atraentes para outros países.

A carne bovina, por exemplo, sofreu elevação, decorrente do apetite do mercado chinês, o que também puxou pra cima os preços das carnes suína e de frango, e dos ovos.

Para piorar, os melhores produtos produzidos aqui são exportados

Esse sistema alimentar globalizado faz com que os preços sejam definidos internacionalmente, com base nas movimentações do mercado financeiro e nas projeções globais sobre safras. Esse fator pode causar uma grande instabilidade em países com alto consumo de itens específicos.

Um bom exemplo é o caso do milho, que nos últimos dois tem visto a alta cotação mexer com o preço do grão aqui no Brasil, o que afeta os produtores de porcos e frangos.

E o aumento do interesse de outros países por produtos brasileiros desencadeia em outro problema: desmatadores e grileiros avançam sobre o Cerrado e a Amazônia em busca de mais lucros.

Para entender em detalhes a relação entre agronegócio e fome, acompanhe nossa cobertura em