Nunca antes na história deste país o termo "agronegócio" esteve tão em evidência. Criado nos anos 50 nos EUA, esse modelo econômico só começou a ganhar força no Brasil na virada dos anos 80-90.
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Como mostra o livro de Caio Pompeia, o governo FHC foi mais relutante no apoio ao agronegócio por considerar que o futuro do Brasil era industrial, e não agrícola. Porém, foi se rendendo ao poder crescente da bancada ruralista, criada após a Constituição de 1988.
“O Brasil esqueceu que, realmente, a agricultura está inserida nesse novo mundo. A agricultura não é o passado, é o futuro”
Mas foi no governo Lula que o agro se sentou à mesa de vez, pra nunca mais sair. E acabou aceito como “a âncora fundamental para o desenvolvimento do país”, nas palavras de Antonio Palocci, ministro da Fazenda.
Logo de cara, Roberto Rodrigues, figura histórica da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), foi nomeado ministro da Agricultura. E a carta de intenções da Abag aos presidenciáveis foi pela primeira vez incorporada ao plano de governo.
Ainda no primeiro ano, Lula liberou o plantio de soja transgênica, que havia sido trazida de contrabando ao Brasil, inclusive com anistia aos responsáveis pela importação ilegal.
Caio Pompeia observa que, mesmo com cofres abertos para o agro e o boom das exportações, o governo Lula foi alvo de queixas do setor. O próprio Roberto Rodrigues entregou o cargo queixando-se do MST.
Formação política do agronegócio mostra como a inédita articulação entre os setores da agropecuária resultou numa força política sem precedentes em termos de capacidade de determinar os rumos dos poderes Legislativo e Executivo.
O agronegócio atinge o ápice no governo Dilma. Contra o governo Dilma.
Acuada, Dilma interrompeu a reforma agrária e a demarcação de terras indígenas, nomeou Kátia Abreu para o Ministério da Agricultura, colocou freio no combate ao trabalho escravo.
Mas nada disso foi suficiente. 83% dos integrantes da Frente Parlamentar Agropecuária votaram pelo impeachment.
Ungido pelo agronegócio, Michel Temer nunca demonstrou ingratidão. O livro analisa as articulações para fazer passar a boiada.
Enquanto os líderes do agronegócio se articulavam em Brasília em torno de um candidato do PSDB à Presidência da República, Jair Bolsonaro rodava as pequenas cidades do país oferecendo um futuro de armas, desmatamento e monocultura.
Bolsonaro queria um ministro ligado aos setores mais radicais, mas teve de ceder, nomeando Tereza Cristina para a Agricultura. A deputada federal, alçada ao estrelato como “Musa do Veneno”, fez uma gestão dos sonhos do agronegócio.
Caio Pompeia analisa as divisões dentro do agronegócio, entre setores mais ligados ao bolsonarismo e aqueles que temem que a política insana do presidente cause prejuízos. Cenas do próximo capítulo.