Antiga vilã da alimentação saudável, a manteiga passou por uma reviravolta e, em apenas 20 anos, tornou-se um dos itens mais procurados e rentáveis da cadeia de produtos lácteos

Tudo começou quando o reinado da margarina caiu por terra, a partir dos anos 1990, quando diversas pesquisas mostraram que o processo de hidrogenação dos óleos usados na fabricação de margarina leva à formação de gordura trans.

Mas, se você é o responsável pelas compras de casa, já deve ter notado que a manteiga tem andado bem mais cara. E não é de hoje.

Porém, o que explica a manteiga ter se tornado tão cara no Brasil, um dos maiores produtores de leite do mundo e detentor do segundo maior rebanho de vacas do planeta?

Consumidores mais antenados e em busca de uma alimentação saudável fizeram o consumo de manteiga crescer progressivamente e num ritmo maior que o aumento na produção.

Embora sejam produtos absolutamente distintos, a margarina e a manteiga disputam o mesmo mercado. E em condições bastante desiguais.

A manteiga é resultado da separação do creme do leite de vaca – a nata – do leitelho, que é o líquido que se desprende com o processo de batedura. Sua composição é regulamentada pelo Ministério da Agricultura e só pode ser chamado de manteiga o alimento produzido com gordura proveniente exclusivamente do leite, em uma porcentagem mínima de 80%.

já a margarina tem como matéria-prima principal óleos vegetais hidrogenados e saborizados artificialmente. Como não são obrigados a informar que tipo de óleo utilizam, as indústrias podem lançar mão de uma combinação de gorduras baratas e com menor oscilação de preços.

Mesmo com os preços em disparada, o consumo segue em alta. A despesa média de cada família com manteiga aumentou 73% entre 2007 e 2018, segundo dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF, 2018) do IBGE. Nesse mesmo período, os gastos com margarina diminuíram 36%.

Mas um olhar mais atento sobre os números revela a desigualdade no consumo desses alimentos. As famílias mais ricas, com rendimento total superior a R$ 14 mil, consumiram oito vezes mais manteiga do que as mais pobres, que estão no estrato inferior com renda total de R$ 1.900. Os dados são também da POF de 2018.

Valter Palmieri Jr., economista e professor da Fundação Getúlio Vargas, aponta para um aspecto que os economistas chamam de “elasticidade na renda”, ou seja, a capacidade de manter o consumo de um determinado produto mesmo quando seu preço sobe.

“O mercado consumidor de manteiga é formado por um grupo de pessoas que continuou comprando mesmo com o aumento”.