Essência da culinária de quase toda a América Latina, o milho está na nossa literatura, na nossa poesia, na nossa música. Comida dos pobres, herança dos povos indígenas.

“Sou a planta humilde dos quintais pequenos e das lavouras pobres… O que me planta não levanta comércio, nem avantaja dinheiro. Sou apenas a fartura generosa e despreocupada dos paióis.”

Cora Coralina

O maior banco de sementes do Brasil tem quatro mil variedades de milho, mas, hoje,  o milho que compramos na feira, a farinha de milho, o fubá, os derivados que estão em alimentos ultraprocessados, tudo isso vem basicamente de um punhado de espécies que caberiam nos dedos das mãos.

Apesar da sua importância, o milho nunca havia dado fortuna a ninguém. Mas essa história começa a mudar no século passado. Milhares de variedades selecionadas ao longo de milênios garantiam diversidades no sabor, na região de plantio, na época do ano. Porém, tudo isso passou a ser regido por um único fator: produtividade.

Em 1945, uma empresa chamada Agroceres faria o milho passar de um cultivo local e de populações pobres para uma cultura de escala.

essa era a frase que estampava as sacas das sementes vendidas pela empresa, de porta em porta

“O milho que vale um milhão”

Enquanto isso, outro empresário estava de olho nas terras do Oeste. O “amigo americano”, Nelson Rockefeller, que conhecia o potencial das sementes híbridas e as pesquisas da Agroceres, não perdeu tempo.

Em 1947, um ano depois de sua segunda visita ao Brasil, tornou-se sócio majoritário da empresa. O Internacional Basic Economy Corporation (Ibec), empresa privada do norte-americano, já possuía uma fazenda de 300 hectares em São Gonçalo do Amarante, no Rio Grande do Norte, que fornecia alimentos para a base espacial americana em Natal.

Mas os interesses não se concentravam apenas no econômico. Ele tinha razões políticas para suas missões pela América Latina, em plena guerra fria. Rockefeller se dizia um defensor da liberdade, um fervoroso anticomunista, e atuou como um representante dos interesses norte-americanos na região, fortalecendo as relações entre os dois países.

Foi nessa época que os Estados Unidos fizeram dos alimentos uma arma na luta geopolítica contra a União Soviética. E o Brasil foi escolhido como um dos espaços centrais da difusão da ideia de que a agricultura deveria, agora, ser especializada e concentrada em grandes áreas.

A ofensiva de Rockefeller inseriu o campo brasileiro na era da industrialização. Essa modernização levou tempo, exigiu muitos recursos em tecnologia, e trouxe uma mudança completa na forma de plantar, colher, trabalhar e de se alimentar, com inúmeros impactos socioeconômicos

O “amigo americano” criou muitas outras empresas no setor: uma fábrica de ração animal, produção de aves, suínos e gado, e também de insumos, como fertilizantes agrícolas

Porém, o caminho percorrido pelo milho para o mercado internacional das commodities foi longo. Desde os anos 90, a produção se incrementou ano a ano. Outras técnicas de plantio foram inseridas, bem como o uso de novos insumos nas lavouras e o melhoramento das sementes.

E hoje a produção não para de crescer:

saltou de 13,8 milhões de hectares destinados à produção do grão em 2010 para 19,8 milhões de hectares em 2021.

A maior parte do milho produzido no Brasil é destinado à produção de ração para a alimentação de aves, porcos e gado, produtos que colocam o país em primeiro lugar no ranking de exportação mundial, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).