O que significam as lupas nos rótulos de alimentos? Por enquanto, muito pouco

A partir de outubro de 2022, os alimentos industrializados ganharão lupas nos rótulos para informar sobre o excesso de sal, açúcar e gorduras saturadas.

O que parece ser uma notícia boa, ainda não é. Como a Anvisa definiu uma implementação lentíssima e pontos de corte frouxos, poucos produtos levarão os símbolos.

Então, ainda não é hora de usar as lupas para guiar decisões de consumo.

Enquanto aqui no Brasil estamos adotando um sistema frágil de rotulagem para alertar aos consumidores sobre o excesso de sal, gordura e açúcar nos alimentos, países como  Chile, Argentina, Peru, Uruguai e México já adotam sistemas mais modernos e comprovadamente exitosos.

Os debates começaram em 2014, e esquentaram em 2016, mobilizados por entidades da sociedade civil reunidas na Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável. Quando o Chile criou os alertas, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) passou a advogar que o Brasil seguisse o modelo.

Em maio de 2018, a Anvisa veio a público pela primeira vez. A Gerência-Geral de Alimentos concluiu que, de fato, os alertas eram o modelo com o melhor funcionamento se a intenção da política é desestimular o consumo de ultraprocessados, e não criar um ranqueamento entre produtos horríveis e menos horríveis.

Mas logo se configurou um clássico da literatura científica sobre o que acontece quando o setor privado se senta à mesa com o mesmo papel que a sociedade civil e a ciência.

A Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia) tomou uma série de ações  corporativas que enfraqueceram políticas públicas. Tais como:

Mobilizou cientistas e formadores de opinião em eventos públicos

Pintou um cenário trágico caso os alertas fossem implementados, dizendo que milhões de postos de trabalho seriam fechados

Colocou outros modelos em discussão, em particular o semáforo usado de forma voluntária no Reino Unido desde 2007, e cuja ineficácia é mais do que comprovada Entre outras ações…