Tudo o que sabemos sobre precarização do trabalho – aka uberização

o joio e o trigo

O que antes era chamado de bico, agora tornou-se um empreendimento. A uberização do trabalho é o motor do capitalismo tardio.

Precariza-se para aumentar os lucros das corporações que imperam sobre a distribuição de bens e serviços, mas que, a fundo, não produzem nada.

o joio e o trigo

Como já disse o célebre pensador e geográfico brasileiro, Milton Santos, a urbanização se dá com base em dois circuitos da economia: o superior e o inferior.

O superior tem o capital. O inferior tem o trabalho. O superior tem acesso a crédito e a ajudas governamentais. O inferior, não.

o joio e o trigo

A expressão master dessa era é o serviço de entrega de comida. É precisamente daí que vem o termo uberização, uma derivação do nome de uma das plataformas de entrega.

iFood e Rappi são aplicativos do gênero.

o joio e o trigo

Essas plataformas mudaram a relação que a gente tem com a comida. O ato de preparar as próprias refeições e sentar-se à mesa com amigos e família vem sendo substituído por uma navegação na tela e poucos cliques, numa relação distante e fria entre quem come e quem produz.

o joio e o trigo

Esse argumento de facilidade só é possível porque envolve um custo que nem sempre está visível: o do trabalho. Para que milhões de pessoas tenham uma refeição em casa, além dos funcionários do restaurante, um entregador terá de percorrer o mais velozmente possível o trajeto até o destino.

o joio e o trigo

Apesar de precisar de gente de carne e osso pra existir, as plataformas compõem o que pesquisadores chamam de ambiente alimentar digital, ou seja, o espaço virtual em que somos influenciados a fazer escolhas sobre o que a gente come. Isso vale para os aplicativos em si, mas também redes sociais, mensagens de texto e anúncios no geral.

o joio e o trigo

A pandemia de Covid-19 acabou maximizando essa relação com o digital, e as plataformas surfaram direitinho essa onda, colocando restaurantes, bares, lanchonetes  demais comércios reféns  desse intermédio.

o joio e o trigo

Para que a exploração obtenha êxito, é preciso convencer os explorados de que eles não são explorados. Por isso, o empenho, o mérito, a força de vontade e o “só não trabalha quem não quer” são pontos trabalhados nos argumentos, para convencer o entregador de que ele está em um empreendimento, no qual o capital inicial é seu próprio corpo e o giro é sua própria saúde – física e mental.

o joio e o trigo

Tem que ser ágil para fazer o maior número de entregas possível e, assim, não sair no prejuízo no fim do dia. As condições laborais são das piores: falta todo tipo de direito.

O imperativo é a rapidez.

o joio e o trigo

Sem alimentação, sem nenhuma garantia de remuneração em casos de acidentes durante o trabalho, às vezes, sem acesso à água e banheiro. Isso, sem mencionar licença-maternidade e paternidade, décimo terceiro, auxílio doença… Não há qualquer vínculo formal que obrigue as plataformas a se responsabilizarem pelas vidas de seus funcionários.

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No fim, são trabalhadores invisíveis:  as vítimas dos epidêmicos aplicativos de entrega. Falamos disso no especial comida e tecnologia disponível em nosso site.

o joio e o trigo

No episódio do Prato Cheio 'O que o Milton Santos Diria Sobre o Ifood?' convidamos os ouvintes a um diálogo inédito (e nunca ocorrido) entre o pensador e o diretor financeiro da empresa que simboliza um modelo precário não apenas de trabalho, mas de vida.

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