Donos do  mercado

Abílio Diniz foi o responsável por transformar o Pão de Açúcar, empresa familiar fundada por seu pai, num império de supermercados.

E há quase 35 anos demonstrou,  no programa Roda Viva, sua visão sobre a ocupação do campo.  O empresário considerava um erro estratégico incentivar a permanência  das famílias nas  zonas rurais.

Ignorava o fato de que os agricultores familiares eram justamente os responsáveis pela produção de boa parte dos alimentos vendidos em seus supermercados.

O Censo Agropecuário  do IBGE, de 2017, mostra que  quase 77% dos estabelecimentos rurais do país pertencem a agricultores familiares.

E esse grupo de pessoas planta muito do que chega  à mesa dos brasileiros. 

Quase 70% da mandioca, 40% do café, 23% do feijão, 50% da banana, 80% do açaí e 65% da alface consumidos nos lares brasileiros são provenientes da agricultura familiar.

Ou seja, são produzidos pelos “homens fixados no campo”.  Abilio, então um dos maiores conhecedores do varejo alimentar brasileiro, vislumbrava um futuro com campos despovoados porque acreditava que a indústria e o agronegócio seriam capazes de suprir as necessidades do Brasil.

Mas não se alimenta um país com cana, soja e milho.

Foi também o império dos Diniz que definiu um novo padrão de relacionamento entre os supermercados e os pequenos produtores de alimentos.

As relações, sempre mediadas por atravessadores, foram  se tornando cada vez mais vantajosas para o Pão de Açúcar e inviáveis para os agricultores.

No livro Donos do Mercado, publicado pelo Joio e pela Editora Elefante, mostramos como os grandes supermercados exploram direta e indiretamente os “homens fixados no campo” e contribuem para afastar os brasileiros dos alimentos produzidos nesta terra.