O Agro brasileiro vai alimentar o mundo?

O Reino de Agrus é uma peça publicitária infantil que faz parte do projeto de marketing do agronegócio nos meios de comunicação.

Mas, pera lá...

Será que o agro brasileiro alimenta o mundo?

Um estudo da Embrapa,  de apenas 9 páginas,  usa a básica Regra de 3 da matemática para comprovar  a importância do agro brasileiro pro mundo.

Nessa conta, as constantes são: população mundial, produção brasileira e produção global de grãos, enquanto o xis da questão é a “população alimentada pelo Brasil”.

Como o Brasil é responsável  por cerca de 10% da produção mundial de trigo, soja, milho, cevada, arroz e carne bovina,  os pesquisadores concluem que atualmente estaríamos alimentando 10% da  população mundial, ou  800 milhões de pessoas.

Só que fontes ouvidas pelo Joio apontam algumas inconsistências nessa ideia.

“Confundiram alimento com ração, pressupondo que a população mundial poderia ser alimentada com soja e milho”,

sintetiza o engenheiro agrônomo Leonardo Melgarejo.

Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Milho (Abimilho), das 88 milhões de toneladas de milho produzidas no Brasil durante a safra 2020/2021, apenas 2 milhões foram diretamente para o consumo humano. 55 milhões viraram ração animal.

Autor do estudo e pesquisador da Embrapa, Elísio Contini defende a metodologia. Ao ser questionado pelo Joio sobre desperdícios, ele explicou que não haveria necessidade de computá-los no estudo:

“Tanto tem perdas aqui como perdas  no mundo. Então, perdas por perdas, não quantificamos.”

Em 2020, 62% da produção brasileira  de milho virou ração

52% da ingestão calórica  da população brasileira é composta por produtos que contém em sua cadeia produtiva os grãos considerados no estudo.

Mas além das dúvidas sobre a metodologia, tem um problema bem profundo pro Brasil nessa história. Como um país que possui um agro "responsável por alimentar o mundo" pode ter 56% da população em estado de insegurança alimentar?

Mas, se o agro brasileiro não alimenta o mundo, por que essa narrativa é tão forte?

Bom, o estudo da Embrapa vem para reforçar um raciocínio muito repetido entre atores políticos e representantes do Agro.

Para o professor Walter Belik, a propagação desta ideia de missão global serve para desviar o foco das críticas pela devastação ambiental empreendida em prol da agropecuária no Brasil, justificando seus impactos ao meio-ambiente.

“É um fundo basicamente político”,

afirma Belik.