Era uma vez 

um país devastado por uma grande guerra, no qual as pessoas estavam passando fome…

O joio e o trigo

Até que um homem muito empreendedor teve um estalo. Iria salvar, a um só tempo, a tradição culinária de seu país e a população da fome. A solução?  O miojo, cópia do tradicional Lamen.

Seria uma bela história, se não fosse mentira.

O joio e o trigo

A história bonita estampa o site da marca Nissin Foods e seu fundador, Momofuku Ando, mas pesquisadores refutam essa versão.

O joio e o trigo

O pesquisador George Solt conta que houve uma sinergia entre os interesses geopolíticos dos norte-americanos e os interesses da elite japonesa, que viu seus privilégios não só preservados, como reforçados, durante a ocupação dos EUA no território japonês após a derrota na Segunda Guerra Mundial.

E é aí que a farinha de trigo entra na história.

O joio e o trigo

“Quanto mais o Japão experimentasse escassez de alimentos, mais pessoas gravitariam em torno do Partido Comunista”, resume Solt em sua tese de doutorado que virou livro (The Untold History of Ramen).

O joio e o trigo

E então representantes dos interesses agrícolas dos EUA se uniram a nutricionistas no Japão para “espalhar o evangelho da superioridade do trigo, da carne e dos laticínios” em relação à dieta tradicional, baseada em arroz, peixe e produtos de soja.

O joio e o trigo

O governo japonês também fez sua parte, incluindo biscoitos na merenda escolar e até organizando uma campanha em que veículos com alto-falantes percorriam as ruas, incentivando a população a comer pão.

O joio e o trigo

E então em 25 de agosto de 1958, a Nissin lança o Chiken Ramen, um macarrão instantâneo à base de farinha de trigo que continha na massa alguns elementos que serviam para imitar o sabor de um caldo de lámen feito com frango.

O joio e o trigo

O apelo para o nutricionismo era forte. A primeira embalagem do Chikin Ramen estampava alegações como: “Constrói força” e “Uma refeição completa: nutritiva e saborosa”.

O joio e o trigo

Uma outra estratégia do fundador da Nissin foi assegurar uma boa distribuição do miojo.  Em 1959, ele firmou uma parceria com a Mitsubishi, empresa que se notabilizou mundialmente por intermediar a importação e a exportação de uma vasta gama de produtos.

A distribuição garantiu espaço para que a produção crescesse.

O joio e o trigo

Além disso, o miojo começou a ser vendido no momento de guinada na estrutura familiar, com muitas mulheres indo trabalhar fora e optando por apenas um filho.

E ainda, a chegada do macarrão instantâneo coincidiu com a popularização da televisão, meio no qual a Nissin nadou de braçada.

O joio e o trigo

A tempestade perfeita para a difusão do macarrão se forma com o imperialismo dos EUA: segundo George Solt, na época, nutricionistas começaram a propagandear que o consumo de farinha de trigo e carne eram a razão por trás da suposta superioridade física e mental dos norte-americanos em relação aos japoneses.

O joio e o trigo

Hoje, o Brasil é o 10º país que mais consome miojo no mundo. São mais de 2,7 bilhões de unidades, segundo a Associação Mundial de Macarrão Instantâneo.

E, quando o assunto é consumo per capita, saltamos para a 9ª posição. Em média, o brasileiro manda para dentro 13 pacotes de miojo por ano.

O joio e o trigo

Para saber mais sobre como o miojo se popularizou no mundo e no Brasil, ouça o episódio 

Ou, leia a reportagem em nosso site:

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