Levantamento realizado pelo Joio levou em consideração declaração das próprias empresas em Reino Unido, Espanha, Itália, China, Estados Unidos, Índia e Brasil
Era dia 24 de março quando dois dos maiores conglomerados de fast food no Reino Unido, o McDonald’s e o Burger King, decidiram quase simultaneamente se adiantar ao lockdown anunciado pelo primeiro-ministro Boris Johnson e encerrar todas as operações em suas 1.800 franquias (somadas) na região.
Naquele momento o país contava 359 mortes e 10.312 casos do novo coronavírus, vindo num crescente suficiente para alarmar autoridades e empresários. Por isso a decisão de suspender todas as operações, incluindo drive-thru e delivery, mesmo sem exigência legal por parte do governo.
Foi quase dois meses depois, em 13 de maio, que o McDonald’s Reino Unido anunciou uma reabertura controlada e gradual, começando com quinze das suas 1.270 lanchonetes. Naquele momento as franquias funcionariam apenas para entregas, com horários e cardápio reduzidos e diminuição no número de funcionários por turno. Processo semelhante ocorreu nas lanchonetes da concorrente Burger King, que, em 8 de julho, já distante o pior da crise no país, ainda tinha 160 franquias fechadas.
As informações fazem parte de um levantamento do Joio, que apurou medidas de segurança sanitária e proteção aos trabalhadores postas em prática durante a pandemia por McDonald’s e Burger King nos seguintes países: Reino Unido, Espanha, Itália, Estados Unidos, China, Brasil e Índia.
O que observamos foram maiores níveis de transparência e de rigor na adoção de medidas de proteção nas operações dessas companhias dentro do chamado bloco de países “desenvolvidos”. Para os países subdesenvolvidos, sobretudo o Brasil, sobraram medidas mais frouxas e genéricas, enquanto a disponibilidade de informação nos canais oficiais de ambas as empresas era consideravelmente menor.
Se em países como Espanha e Reino Unido essas redes permaneceram fechadas por quase dois meses, preparando protocolos de higiene e distanciamento social, ou, como nos Estados Unidos, garantiram licenças médicas remuneradas aos trabalhadores de franquias próprias contaminados, no Brasil a coisa foi diferente.
Em território nacional McDonald’s e Burger King fecharam seus salões de refeição, mas nunca chegaram a paralisar as atividades totalmente.
No caso do “Méqui”, que opera 1.026 lanchonetes no país, medidas como redução de cardápio e da capacidade de clientes nas lojas; instalação de marcações de distanciamento social, barreiras de acrílico; e reforço dos protocolos de higienização de superfícies foram anunciadas no dia 30 de junho, quando o país já havia ultrapassado a marca de 57 mil mortes por Covid-19.
Medidas semelhantes foram divulgadas pelo Burger King no dia 02 de julho. Naquele momento, com 75% de suas lojas em operação, a companhia destacava ações como a ampliação do uso de EPIs; distribuição de máscaras para “colaboradores”; instalação de acrílicos de proteção nas lojas; e envio de termômetros para medição de temperatura de trabalhadores e clientes nas lojas localizadas fora de shoppings centers. Um mês depois, com os salões de refeição abrindo em todo o país, a cadeia anunciou medidas adicionais como a limpeza “frequente” das superfícies nas lanchonetes e o “necessário” distanciamento entre mesas.
Mesmo quando se compara com a Índia, onde ambas as empresas têm menor presença — são 250 franquias do Burger King e 474 do McDonald’s — as medidas adotadas no Brasil foram mais relaxadas.
Em função do lockdown imposto naquele país, as atividades de delivery do McDonald’s nas províncias do Norte e do Leste foram retomadas apenas no dia 21 de abril, com adoção de procedimentos como a distribuição de máscaras e a checagem de temperatura de funcionários; marcações de distanciamento social nas cozinhas; e aumento da frequência nos protocolos da lavagem de mãos.
Mais tarde, com a reabertura gradual dos salões de refeição em algumas lanchonetes, a companhia adotou também protocolos de medição da temperatura de clientes, medida que não foi anunciada por aqui.
Nem tudo são rosas no Hemisfério Norte
O levantamento do Joio também destaca medidas que vão de encontro ao bem-estar dos funcionários e clientes sendo tomadas pelas duas cadeias em países desenvolvidos durante a pandemia.
No final de março a maior franqueadora do Burger King nos EUA anunciou um corte de 10% na folha de pagamento de todos os seus funcionários, mas acabou recuando por conta da repercussão negativa. O McDonald’s, da sua parte, fez lobby no Senado americano e na Casa Branca contra a aprovação de uma lei que obrigaria parte importante de seus operadores de franquia a garantir licença médica remunerada aos empregados afastados em função do coronavírus.
No início de abril, uma franquia do McDonald’s na cidade italiana de Palermo foi “trancada” por trabalhadores ligados à Confederação Geral Italiana do Trabalho (CGIL). Eles denunciavam o estabelecimento por não distribuir EPIs para funcionários diretos e entregadores. Uma reportagem do website Público também mostrou que o Burger King da Espanha vinha praticando demissões injustificadas contra trabalhadores afastados por motivos médicos alheios à Covid-19 durante a pandemia, alegando “baixa produtividade” e “simulação de enfermidade”.
Confira o levantamento completo clicando aqui.
O que dizem as empresas
Procurada, a Arcos Dorados S.A, franqueadora master do McDonald’s no país, afirmou que durante a pandemia implementou medidas como “reforço na higienização e sanitização de equipamentos e superfícies dos restaurantes, entrega de pedidos em embalagens para viagem, uso de viseiras acrílicas, máscaras e luvas pelos funcionários, instalação de barreiras acrílicas para proteção física entre atendentes e clientes e demarcações de distanciamento social”, sem distinção entre franquias próprias e terceirizadas.
No que diz respeito a garantias e benefícios trabalhistas, a empresa destacou ter criado “uma série de ações para cuidar da saúde mental das equipes, que incluem a disponibilização de psicólogos para lidar com questões emocionais, campanhas internas que trazem dicas para enfrentar esse momento e [o] aumento dos processos de escuta”.
O Burger King não respondeu às perguntas do Joio até o fechamento da reportagem.