Na cobertura da COP 11, que discute o tratado global do tabaco, assessora de imprensa do SindiTabaco tentou desligar gravador de Pedro Nakamura, enquanto profissional era hostilizado por membros de comitiva apoiada pela entidade

O repórter Pedro Nakamura, de O Joio e O Trigo, voltou a ser hostilizado hoje (17) por representantes da indústria do cigarro. Desta vez, parlamentares e integrantes de associações corporativas cercearam o exercício da liberdade de imprensa durante a cobertura da Conferência das Partes da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (COP 11), realizada em Genebra, na Suíça. Uma assessora de imprensa do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco) chegou a tentar desligar o gravador do profissional.
Este é apenas o primeiro dia do encontro, realizado a cada dois anos para discutir a implementação do tratado global criado em 2003 pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O repórter fazia seu trabalho de acompanhar a chegada de algumas delegações. Ele também monitorava as tentativas de representantes da indústria do cigarro de entrar na área reservada às discussões. O texto da convenção prevê que os integrantes da indústria do fumo não podem participar dos debates acerca da implementação do tratado, razão pela qual parlamentares da bancada do tabaco e veículos ligados às empresas patrocinadas pela indústria são mantidos de fora pela OMS, que organiza o evento.
As hostilidades se iniciaram logo após a chegada de uma comitiva de políticos, entidades ligadas ao tabaco, influenciadores e veículos de regiões fumicultoras, que foram a Genebra com apoio do SindiTabaco. Mesmo sem cadastro ou registro prévio no evento – que barra representantes da indústria – os brasileiros tentaram forçar sua entrada na COP11.
Em meio às tentativas de entrada, Nakamura tentou entrevistar o deputado federal Rafael Pezenti (MDB-SC). Ao ser interpelado, o parlamentar acusou o Joio de defender uma “ideologia” e o repórter de “não fazer jornalismo”. Em seguida, o repórter pediu ao parlamentar que deixasse de ser deselegante. “Você é um homem fraco, se eu não posso falar verdades para você, você acha que eu sou deselegante? Então você é um homem fraco. Eu não converso com pessoas fracas”, respondeu Pezenti.
Ainda que continuasse a ofender repetidamente o repórter, o parlamentar, na prática, concedeu ao veículo uma entrevista de quase dez minutos enquanto o deputado federal Marcelo Moraes (PL-RS) filmava, aos risos, a interação. A dupla já havia hostilizado Nakamura há dois meses durante a Expointer, principal feira de agronegócio do Rio Grande do Sul.
Nakamura ficou no local durante pelo menos uma hora, tentando escutar os parlamentares e os representantes da indústria. O produtor rural Giovane Weber, que é também influenciador digital e produz conteúdo com patrocínio do SindiTabaco e da Philip Morris, queixou-se de ser excluído dos debates acerca da implementação do tratado e questionou por que o repórter poderia acompanhar as discussões. Em seguida, tentou filmar Nakamura enquanto o profissional fazia perguntas.
Uma assessora de imprensa do SindiTabaco passou a gritar com o repórter, questionando quem o financia. Em um certo momento, ela avançou contra o celular de Nakamura na tentativa de desligar seu gravador.
Ao longo de todo o período em que Nakamura tentou realizar entrevistas, registrar os acontecimentos e acompanhar o que se passava na entrada do evento das Nações Unidas, o repórter foi filmado por representantes e aliados da indústria.
Após o incidente, o repórter procurou a organização da COP 11, que demorou a acionar a segurança. ONGs, como STOP e ACT Promoção da Saúde, também foram procuradas, na tentativa de estabelecer alguma segurança ao repórter na cobertura da conferência, que vai até o próximo sábado (22).
