O Joio e O Trigo

Conheça os estados que mais elegeram parlamentares com compromisso ambiental e combate à fome

São Paulo, Bahia, Minas Gerais e Rio Grande do Sul elegeram maior número de representantes; Número de defensores da pauta diminuiu no Congresso Nacional em relação a 2018

A votação no primeiro turno das eleições realizada no domingo (2) definiu a composição da Câmara dos Deputados e do Senado Federal para os próximos quatro anos. O número de parlamentares comprometidos com a pauta ambiental e a alimentação adequada diminuiu em praticamente todos os estados, mas nomes de peso reforçam a trincheira em defesa dessas pautas no Congresso Nacional. 

É o caso das duas lideranças indígenas eleitas deputadas federais este ano: Sônia Guajajara (PSOL-SP) e Célia Xakriabá (PSOL-MG), assim como dos representantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Valmir Assunção (PT-BA) e Marcon (PT-RS) e da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (Rede-SP) que também ocuparão cadeiras da Câmara dos Deputados na próxima legislatura.

São Paulo, Bahia , Minas Gerais e Rio Grande do Sul são os estados que mais elegeram pessoas com histórico de atuação nessas áreas. Apenas o RS manteve o mesmo número de representantes ligados a essas questões, nos demais estados o número diminuiu. Acre, Alagoas, Amapá, Mato Grosso, Roraima e Tocantins não elegeram candidaturas explicitamente comprometidas com esses temas.

 O Joio analisou a lista de deputados federais e senadores eleitos em relação ao levantamento das candidaturas realizado pelo Painel Farol Verde,  as assinaturas da Carta-Compromisso Agroecologia nas Eleições 2022, elaborada pela Articulação  Nacional de Agroecologia (ANA), além do resultado das candidaturas apresentadas pelo MST. 

O Painel Farol Verde mapeou todas as candidaturas à reeleição para o Congresso por meio de um Índice de Convergência Ambiental (ICAt). Para cada votação entre 2019 e 2022, foram comparados os votos das candidaturas com o dos coordenadores da Frente Parlamentar Ambientalista. Quem votou igual, ganhou pontuação no ICAt. Quem votou contra ou não votou, não pontuou.

São consideradas “candidaturas verdes” aquelas com pontuação acima de 50% no ICAt, quanto mais próximo de 100%, maior é a convergência ambiental da candidatura. Os candidatos e candidatas que se elegeram pela primeira vez não entram neste indicador. 

O MST elegeu seis das 15 candidaturas em cargos estaduais e federais. Foi a primeira vez que o movimento apresentou candidatos e candidatas sob sua coordenação. Foram eleitos dois deputados federais por São Paulo e Rio Grande do Sul, e quatro estaduais nas assembleias dos estados do Ceará, Pernambuco, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.

Segundo balanço divulgado nesta quarta-feira (4) pela ANA, mais de 20% das candidaturas que aderiram à campanha Agroecologia nas Eleições foram eleitas no último domingo, entre deputados estaduais e federais, senadores e governadores. No total, 153 candidaturas, das 692 que assinaram a carta-compromisso conquistaram cargos legislativos em 21 estados e no Distrito Federal, além dos governos do Amapá e do Maranhão. Mais de 10% dos eleitos estão comprometidos com o fortalecimento da agroecologia e da agricultura familiar, sendo 64 deputados federais (equivalente a 12% da Câmara dos Deputados) e 87 estaduais.

São Paulo

São Paulo elegeu a maior bancada no que diz respeito ao compromisso ambiental, com 19 cadeiras para a Câmara dos Deputados. Entre os nomes eleitos se destacam o de Sônia Guajajara (PSOL), primeira representante indígena eleita pelo estado, presidente da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), principal organização indígena no país e o de Marina Silva (Rede), ex-ministra do Meio Ambiente nome forte ligado ao tema no cenário político atual. 

“Estou honrada por representar 237.521 paulistas que acreditam na necessidade de promover as transformações que reduzam nossas desigualdades e criem as condições para um ciclo de prosperidade que não cause danos ao nosso patrimônio ambiental. Vamos cuidar de São Paulo e do Brasil”, postou Marina Silva em suas redes.

Ambas integraram candidaturas presidenciais em 2018. Marina Silva como cabeça de chapa e Sônia Guajajara como vice da chapa do PSOL encabeçada por Guilherme Boulos. Coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MTST), um dos principais movimentos populares em atividade no país, Boulos foi o deputado federal mais votado em São Paulo.

“O lugar que eu vou ocupar agora no Parlamento não é uma ruptura com a minha história no  movimento social. É uma forma de levar essas pautas, essas lutas, essas vozes do movimento social pra dentro de um espaço de poder”, disse Boulos em entrevista ao programa Roda Viva da TV Cultura na noite desta segunda-feira (3).

Sônia Guajajara tomou a decisão de lançar sua candidatura depois de discutir com a organização a importância de fazer frente à bancada ruralista no Congresso. 

“Eu e a Célia Xakriabá fomos eleitas e a Bancada do Cocar inicia uma nova trajetória. A nossa missão é defender a todo custo as florestas, a biodiversidade, os direitos humanos e as nossas vidas, indígenas e não indígenas”, postou Guajajara em sua conta no Twitter na tarde desta segunda-feira (3).

Ambas também assinaram a carta da Articulação Nacional de Agroecologia com o compromisso de combater a fome e promover a agricultura familiar e a agroecologia, e proteger os povos e comunidades tradicionais.

Embora tenha eleito a maior bancada em defesa do meio ambiente, São Paulo também elegeu um dos principais algozes, o ex-ministro bolsonarista Ricardo Salles (PL), conhecido por ter defendido “passar a boiada” em relação às legislações que afetam o meio ambiente.

Conheça as candidaturas com
compromisso ambiental eleitas por SP

Primeiro mandato

  • Marina Silva (Rede) – lista ANA
  • Sônia Guajajara (PSOL) – lista ANA
  • Guilherme Boulos (PSOL) – lista ANA
  • Juliana Cardoso (PT) – lista ANA
  • Luiz Marinho (PT)
  • Erika Hilton (PSOL)

Reeleitos          %ICAt

  • Nilto Tatto (PT) 95% – lista ANA
  • Luiza Erundina (PSOL) 92%
  • Arlindo Chinaglia (PT) 81%
  • Alexandre Padilha (PT) 80%
  • Rosana Valle (PL) 77%
  • Paulo Teixeira (PT) 75% – lista ANA
  • Tabata Amaral (PSB) 75%
  • Rui Falcão PT 74%
  • Alencar Santana (PT) 72%
  • Sâmia Bonfim (PSOL) (70%)
  • Ricardo Silva (PSD) (67%)
  • Carlos Sampaio (PSDB) 59%
  • Vitor Lippi (PSDB) 51%


Bahia

A Bahia elegeu este ano 11 candidaturas comprometidas com o meio ambiente e alimentação saudável para a Câmara dos Deputados, com destaque para Valmir Assunção (PT), representante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que tem no estado o maior número de assentamentos hoje no país e se tornou um foco de disputa entre o movimento e o atual candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL).

“Estou emocionado com o voto de confiança dado em nossa história e nossa militância”, postou Assunção em suas redes. 

“Fui reeleito com o compromisso de ser a representação das bandeiras dos movimentos sociais e de toda classe trabalhadora no Parlamento. Agora, nossa tarefa primeira é construir o caminho para a eleição de Lula e Jerônimo na Bahia! A nossa história faz a diferença!”, comemorou.

O estado também elegeu para o Senado Otto Alencar (PT), com histórico de atuação favorável aos temas ambientais com 60% de ICAt, segundo o Painel Farol Verde.

Conheça as candidaturas com
compromisso ambiental eleitas pela Bahia

Reeleitos

  • Valmir Assunção (PT) 93% – lista ANA
  • Daniel Almeida (PCdoB) 89% 
  • Waldenor Pereira (PT)  86% – lista ANA
  • Afonso Florence (PT) 86% – lista ANA
  • Lídice da Mata (PSB) 86% – lista ANA
  • Alice Portugal (PCdoB) 86% 
  • Jorge Solla (PT) 84% – lista ANA
  • Zé Neto (PT) 84% – lista ANA
  • Felix Mendonça (PDT) 72%
  • Pastor Sargento Isidório (Avante) 66%
  • Otto Alencar (PSD) 60%

Minas Gerais

Minas Gerais elegeu 13 nomes para a Câmara dos Deputados em defesa da pauta ambiental e da alimentação saudável. Os destaques são para a liderança indígena Célia Xakriabá (PSOL), primeira representante indígena eleita pelo estado, e Padre João (PT), nome com histórico ligado ao combate à fome no país.

“Nossa vitória não é apenas pelos povos indígenas, é pela mãe terra, educação e cultura. Vamos chegar com a força do nosso cocar, fazendo ecoar nossas vozes e maracás!”, postou Xakriabá em suas redes. Ela apresentou sua candidatura com o “compromisso de defender a urgência das causas ambientais, por justiça social, por representatividade na política e pelo fim da violência contra os povos originários”.

Xakriabá é mestra em desenvolvimento sustentável pela Universidade de Brasília (UnB) e doutoranda em antropologia pela UFMG. Integra a Articulação Rosalino Gomes, com atuação no Norte de Minas Gerais e foi uma das fundadoras da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade. Atuou como assessora parlamentar na Câmara dos Deputados ao lado de Áurea Carolina.

Coordenador da  Frente Parlamentar de Segurança Alimentar e Nutricional, Padre João realizou na Câmara dos Deputados o pré-lançamento da Agenda Betinho 2022, que reúne 92 propostas de políticas públicas de segurança alimentar e nutricional com o principal objetivo de reverter o quadro de 33 milhões de pessoas que passam fome hoje no país.

Entre as propostas da agenda estão a recriação do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), extinto no início do governo Bolsonaro, o apoio à agricultura familiar e à agroecologia, a reestruturação do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e a aprovação da  Política Nacional de Redução de Agrotóxicos (PL 6670/16).

Conheça as candidaturas com
compromisso ambiental eleitas p
or Minas Gerais

Primeiro mandato

  • Célia Xakriabá (PSOL) – lista ANA
  • Duda Salabert (PDT) – lista ANA
  • Dandara (PT) – lista ANA
  • Ana Pimentel (PT) – lista ANA

Reeleitos

  • Leonardo Monteiro (PT) – 92%
  • Rogério Correia (PT)  – 92% – lista ANA
  • Padre João (PT) – 92% lista ANA
  • Patrus Ananias (PT) – 88% lista ANA
  • Odair Cunha (PT) – 87%
  • Paulo Guedes (PT) – 85%
  • André Janones (Avante) – 82%
  • Reginaldo Lopes (PT) – 82% – lista ANA
  • Weliton Prado (Pros) – 72%

RS

O Rio Grande do Sul conseguiu reeleger oito candidaturas comprometidas com a pauta ambiental para o Congresso Nacional este ano, com destaque para o representante do MST, Marcon (PT), do agricultor familiar Heitor Schuch (PSB) e de Fernanda Melchionna (PSOL). O estado também teve duas candidaturas eleitas para um primeiro mandato que assinaram o compromisso com a agroecologia por meio da lista da ANA: Daiana Santos (PCdoB) e Denise Pessôa (PT).

Dionilso Marcon é integrante do MST e vive no assentamento Capela, em Nova Santa Rita (RS), onde é produzido arroz agroecológico por meio da Cooperativa Agropecuária Nova Santa Rita (Coopan). Atua pela democratização do acesso à terra no Brasil e por uma ampla política de Reforma Agrária, com a qualificação dos assentamentos. 

Nascido em família de agricultores familiares, trabalha para ampliar recursos na produção, o custeio e o investimento nas pequenas propriedades do campo. Defende o fortalecimento da política de ampliação do PAA, da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e da recriação do Consea.

A deputada federal Fernanda Melchionna tem uma atuação parlamentar ligada ao tema ambiental e à causa dos atingidos por barragens. Ela é uma das autoras (PL) 572/2022, que cria a Lei Marco Nacional sobre Direitos Humanos e Empresas e estabelece diretrizes para a promoção de políticas públicas sobre o tema.

“Nós temos um Congresso extremamente conservador, ligado aos interesses das grandes empresas. É preciso ampliar a pressão de fora para dentro do Parlamento para defender um projeto desse tipo, pegando casos concretos, porque, afinal, foram vários casos de violação sistemática de direitos humanos para exploração da mão de obra e devastação ambiental”, disse Melchionna em entrevista ao Joio.

Conheça as candidaturas com
compromisso ambiental eleitas p
or Rio Grande do Sul

Primeiro mandato

  • Daiana Santos (PCdoB) – lista ANA
  • Denise Pessôa (PT) – lista ANA

Reeleitos

  • Marcon (PT)  88% – lista ANA
  • Heitor Schuch (PSB)  86% 
  • Bohn Gass (PT)  83% – lista ANA
  • Maria do Rosário (PT) 77% – lista ANA
  • Pompeo de Mattos (PDT)  75%
  • Paulo Pimenta (PT)  73%
  • Afonso Motta (PDT) 72% 
  • Fernanda Melchionna (PSOL) 71% – lista ANA

Senado

Para o Senado Federal, além de Otto Alencar (PSD-BA), também foram reeleitos Davi Alcolumbre (PDT-AC) e Wellington Fagundes (PL-MT), com Índice de Conversão Ambiental ICAt em 60% segundo o Painel Farol Verde. Teresa Leitão (PT-PE), primeira senadora eleita na história de Pernambuco, foi a única candidata eleita a assinar a lista da ANA. 

Entre os nomes que tendem a convergir para a pauta ambiental, de segurança alimentar e combate à fome no Senado, foram eleitos para o primeiro mandato os ex-governadores Flávio Dino (PSB-MA), Camilo Santana (PT-CE) e o ex-deputado federal Beto Faro (PT-PA).

José Roberto Oliveira Faro é natural de Bajuru (PA), onde presidiu o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bujaru, a Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetagri-PA) e a Central Única dos Trabalhadores no estado. Defensor de políticas para a população rural, teve papel na consolidação do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Foi vice-líder do PT na Câmara dos Deputados e vice-presidente da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural.

Governadores

A eleição para governador ainda não está fechada, pois 12 estados terão segundo turno. Dos quinze estados que elegeram seus representantes no primeiro turno, firmaram compromisso com a agenda agroecológica o governador do Maranhão, Carlos Brandão (PSB) e o governador do Amapá, Clécio (Solidariedade). O Painel Farol Verde não tem mapeados os candidatos a governo de estado em seu levantamento.

**Esse texto foi atualizado em 5/10/2022 para inclusão de balanço final divulgado pela Articulação Nacional de Agroecologia

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