Estaremos onde sempre estivemos: um veículo utópico, especializado em investigações sobre sistemas alimentares e poder privado. Não nos pautamos por pessoas, partidos ou organizações, e sim por nossos valores
Encerradas as eleições mais importantes do nosso século, o Joio informa que estará onde sempre esteve. Somos um veículo utópico, especializado em investigações sobre sistemas alimentares e poder privado. Não nos pautamos por pessoas, partidos ou organizações, e sim por nossos valores.
Nas últimas semanas, especialmente no mundo das redes sociais, velhos debates vestiram roupas novas para figurar em um desfile que deve durar os próximos quatro anos. Já se levanta a ideia de que qualquer crítica a Lula e ao PT é um desserviço à esquerda e um favor à direita. Como se fosse simples.
Nós, jornalistas que trabalhamos em outros veículos durante os governos Lula e Dilma, e que com muita alegria criamos e mantemos o Joio, entendemos que é importante, desde já, criar alguns combinados com leitores, ouvintes, apoiadores do Sementeira e seguidores de redes sociais.
Como dissemos em um editorial ainda no começo de 2022, diante de Jair Bolsonaro, Lula era a única opção real. A vitória do petista era o único caminho para garantir um mínimo de diálogo democrático para, no futuro, avançar em direção a conquistas mais profundas e de maior qualidade. Atravessado o período eleitoral, é hora de o jornalismo contribuir para começar a dar esses passos.
O jornalismo é uma atividade de interesse público
O jornalismo se ocupa principalmente da crítica, da fiscalização dos poderes. Daquilo que vai contra o interesse público. As realizações de um governo são um assunto para a publicidade e a comunicação institucional. Projetos jornalísticos podem produzir reportagens que levantem prós e contras de uma determinada política pública; podem promover comparações entre governos e períodos históricos. Mas o Joio não quer, não pode e não deve fazer propaganda de qualquer gestão pública. Nosso papel é investigar erros, porque é esse o debate que permite promover mudanças em prol da sociedade.
“Vocês estão fazendo o jogo da direita”
Essa frase tão comum no início do século já volta a circular. Que um hectare de Amazônia seja reflorestado cada vez que alguém a diga. Durante os governos Lula e Dilma, setores de centro e de esquerda decidiram brigar com os fatos. A interdição de determinados debates, como o direito à memória e à verdade e os direitos dos povos indígenas, cobrou um preço histórico altíssimo, na medida em que atrasou ou abafou agendas altamente relevantes. A cobertura crítica a recuos e omissões desses governos em relação a tais temas foi acusada de “estar fazendo o jogo da direita”.
Quem faz o jogo da direita, vamos combinar, é quem traça alianças com figuras políticas envolvidas em um sem-fim de crimes. O jornalista apenas comunica o que está vendo e ouvindo: não culpem o mensageiro se a mensagem é ruim.
Ler nas entrelinhas será importante
Não estamos, com tudo isso, adotando uma postura ingênua, de colocar o jornalismo numa espécie de pedestal de neutralidade. Jamais nos declaramos neutros. E tampouco ignoramos o fato de que, durante os 13 anos de governo do PT, veículos jornalísticos foram usados para promover uma campanha de perseguição que, também, brigou com os fatos e a verdade. A comunicação hegemônica abriu espaço a um sentimento de ódio que superou a ela própria, lançando as sementes à enxurrada de notícias falsas e a Jair Bolsonaro.
Porém, é importante reconhecer que, nesse caso, tratava-se de uma instrumentalização do jornalismo, ou seja, de adotar uma roupagem jornalística para promover interesses financeiros e políticos. Procurar ler essas entrelinhas será importante para navegar os próximos quatro anos.
O presidente da República é maior de idade
Lula tem experiência suficiente para defender suas realizações e seus erros. Não é papel de nenhum projeto jornalístico blindar o presidente da República, nem deputados, senadores, ministros e governadores. Fingir que os erros de um governo não existem não fará esses erros desaparecerem, e prejudicará setores da sociedade que fazem das reportagens uma maneira de ampliar críticas e ponderações.
De toda maneira, a eleição de Lula é um passo importante para o exercício do jornalismo, que é seguramente uma das bases de qualquer regime democrático. A campanha bolsonarista contra jornalistas criou inúmeras dificuldades, ceifou vidas, plantou obstáculos, ódio e ressentimentos.
Respiramos aliviados com a possibilidade de que exista democracia no Brasil em 2023. Inclusive para poder criticar o presidente da República, os parlamentares, os ministros e os governadores. Estamos diante de um país faminto, empobrecido e entregue a um sistema de exploração à altura dos piores tempos de colonialismo. Não faltam motivos para fortalecer e valorizar a cobertura jornalística.