Publicidade infantil, rotulagem, tributação, direito humano à alimentação adequada, conflito de interesses, amamentação e uma conversa desgourmetizadora com Rita Lobo
A alimentação se transformou num dos problemaços do século 21 (e olha que o que não falta nesse século são problemas). Cada vez mais há evidências de associação entre o que consumimos e algumas das doenças que mais têm limitado e levado vidas. Como mostramos aqui no Joio, a indústria de ultraprocessados não poupa esforços na hora de aumentar a confusão sobre o que podemos e devemos comer.
Para tentar diminuir um pouco essa fumaça, listamos abaixo sete bate-papos que oferecem alguns caminhos. As conversas foram realizadas no estande da Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável durante o Congresso Brasileiro de Nutrição, entre 18 e 21 de abril, em Brasília.
Você verá que os papos são longos, já que os assuntos são complexos. Mas vale a pena trocar de vez em quando aquela série no computador por um desses bate-papos. Ou chamar os amigos para ver um pedaço e depois discutir.
Podemos começar pelo começo. Da vida: o aleitamento materno. Sonia Salviano, do IBFAN Brasil, comenta as interferências da indústria sobre a amamentação, mesmo depois do estabelecimento de regras globais bem claras e rígidas.
Passamos do berço à infância com uma conversa sobre publicidade infantil. Ekaterine Karageorgiadis, coordenadora do Projeto Criança e Consumo do Instituto Alana, e Renata Monteiro, do Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutrição da Universidade de Brasília, abordam o desrespeito às leis que garantem a proteção dos pequenos.
Aos mais crescidinhos, Carolina Chagas, da Associação Brasileira de Nutrição, propõe o Rango Cards, um jogo de cartas sobre alimentação com base nos conceitos do Guia Alimentar para a População Brasileira. Valéria Burity, da FIAN Brasil, explica o conceito de direito humano à alimentação adequada.
Para garantir esse direito humano, há uma série de medidas regulatórias que podem ser adotados pelos Estados. Uma delas é a tributação de produtos não saudáveis. Paula Johns, da ACT Promoção da Saúde, e Rafael Claro, professor do Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), abordam o assunto. Eles explicam e comentam uma peculiaridade brasileira: ao menos R$ 7 bilhões ao ano em subsídios à indústria de refrigerantes.
Em outra frente, a Anvisa discute a adoção de um modelo de rotulagem frontal que possa estimular o consumo de alimentos mais saudáveis. Ana Paula Bortoletto, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), e Gastón Ares, da Universidade da República, do Uruguai, explicam o que está em jogo.
Mas todas essas políticas públicas são atrasadas ou atrapalhadas por pesquisas científicas que conseguem bagunçar o coreto e o consenso. Daniela Canella, do Instituto de Nutrição da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), e Paulo César Castro, Frente pela Regulação da Relação Público-Privado em Alimentação e Nutrição, mostram os efeitos da presença da indústria de ultraprocessados na ciência.
Por fim, e não menos importante, Rita Lobo, do canal Panelinha e do programa Cozinha Prática, passa por alguns dos desafios fundamentais da alimentação: como voltar a cozinhar, como revalorizar a culinária, como evitar que isso se transforme em um fardo.