Maltratada em primeiro debate, saúde vai para escanteio no segundo

Candidatos conflitam com orientações oficiais para alimentação e omitem críticas ao agronegócio

Maltratada no primeiro debate, a saúde foi jogada para escanteio no segundo encontro entre os candidatos à Presidência da República, na RedeTV!. As menções a um dos temas que mais preocupam os cidadãos foram superficiais e genéricas.

Segurança alimentar, agronegócio, agricultura familiar, obesidade e doenças crônicas não transmissíveis receberam pouco espaço.

O monitoramento de redes sociais feito pela RedeTV! confirma que corrupção, economia e temas morais foram os temas mais mencionados durante o evento.

Dignos de nota, os embates constantes entre Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB) tiveram duas citações relevantes nos assuntos acompanhados pelo Joio. Ambos se ocuparam preferencialmente de temas econômicos, e o pedetista foi claramente quem conseguiu maior exposição na ausência de um candidato do PT.

Primeiro, Alckmin perguntou a Ciro sobre agronegócio. Ambos teceram elogios ao setor, sem menções críticas a desmatamento, trabalho escravo, concentração de terras e uso de agrotóxicos. O Pacote do Veneno, tema que mobilizou parte da opinião pública ao longo deste ano, segue sem ser lembrado pelos candidatos ao Planalto. Em outro momento, Ciro afirmou não haver sentido em importar agrotóxicos.

“O agronegócio tem tido uma tarefa grave porque é quem paga as contas externas do país. O que precisamos é agregar valor”, defendeu, dando como exemplo o processamento de milho.

Já Alckmin falou em duas oportunidades sobre retirar impostos sobre comida “processada”. O tucano deixou claro que estava falando sobre alimentos industrializados. O Guia Alimentar para a População Brasileira recomenda fazer de alimentos in natura e minimamente processados a base da dieta. Alimentos processados devem ser consumidos com moderação. E ultraprocessados devem ser evitados.

Pesquisas científicas têm mostrado que os ultraprocessados estão cada vez mais baratos, aproximando-se do preço de alimentos frescos. Uma redução tributária, portanto, iria na contramão da diretriz oficial do Brasil.

Em outro momento relevante, Ciro foi questionado por Marina sobre como resolver os conflitos fundiários. Ele reconheceu a experiência da adversária nesse sentido, e de fato a ex-senadora demonstrou conforto com o tema.

Já o pedetista defendeu que a vice dele, Kátia Abreu, é uma pessoa que sabe ter “equilíbrio” nessa área. A senadora foi ministra da Agricultura do governo Dilma e chegou a ser escolhida Motosserra de Ouro, “prêmio” dado pelo Greenpeace a grandes desmatadores.

“Trouxe pra minha vice uma pessoa que tem muitas diferenças de mim. A Kátia Abreu. Mas a Kátia Abreu, sendo uma pessoa que vem da agricultura, ela já compreende com muita clareza a necessidade de achar o equilíbrio nisso.”

Em 2015, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, a então miniustra disse que não há mais latifúndios no Brasil e que os conflitos fundiários existem porque os indígenas deixaram a floresta e foram a áreas de produção.

Nos comentários finais, Alckmin também fez elogios à vice, Ana Amélia (PP), outro expoente da bancada ruralista.

Em termos de saúde, houve ainda um embate entre Cabo Daciolo (Patriota) e Jair Bolsonaro (PSL). Mas quem quiser saber como foi pode procurar em outra página. Vamos nos poupar desse momento.

Por João Peres

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