Formação política do agronegócio desvenda as origens conceituais do setor mais importante da economia brasileira e seus tentáculos sobre a política nacional, mostra quem é quem, quais são as divisões e os pontos de convergência entre proprietários rurais, parlamentares e organizações públicas e privadas ligadas ao agro
Ruralista é tudo igual. Só que não. Em Formação política do agronegócio, o antropólogo Caio Pompeia rende uma contribuição inestimável ao debate público sobre o setor que dá as cartas na política e nas leis brasileiras.
O lançamento da Elefante em parceria com O Joio e O Trigo dá nomes nos bois. À diferença do senso comum que considera o agronegócio como um setor homogêneo e igualmente reacionário, Formação política do agronegócio mostra quem é quem, quais são as divisões e os pontos de convergência entre proprietários rurais, parlamentares e organizações públicas e privadas ligadas ao agro.
Ao longo de anos, durante o doutorado na Unicamp, com períodos de pesquisa em Harvard, o autor foi buscar a origem da expressão “agribusiness”, reconstituiu o momento da importação desse conceito no Brasil e conduziu um aprofundado trabalho de campo, dialogando com vários atores políticos e empresariais para entender como a articulação intersetorial foi fundamental para a bancada ruralista se tornar a fiadora de vários governos.
Como escreve a renomada antropóloga Manuela Carneiro da Cunha, no prefácio de Formação política do agronegócio, “graças ao livro de Caio Pompeia, temos agora uma história da gênese das instituições, das associações e dos protagonistas do agronegócio no Brasil. É um guia precioso de percursos, programas e atuações de um campo político heterogêneo e continuamente em mudança”.
Também em oposição ao senso comum, Formação política do agronegócio mostra que, a partir dos anos 1990, quando essa articulação intersetorial começa a ganhar forma no Brasil, sucessivos governos tiveram relações tensas e contraditórias com o agro: a resistência de FHC àquilo que enxergava como o “passado”; a política morde-assopra de Lula; a escalada de pressões contra Dilma; e o golpe.
De 2016 em diante, os ruralistas encontram porteiras escancaradas no Palácio do Planalto: sucessivas medidas provisórias abrem terreno para a regularização da grilagem; a demarcação de terras indígenas e quilombolas é freada definitivamente; queimadas e derrubadas abrem novas áreas em plena Amazônia, sob protestos de organizações, governos estrangeiros e instituições do mercado financeiro. Pela primeira vez, alguns setores do agronegócio estão à esquerda do governo.