Como parte da série sobre os alimentos mais importantes na mesa das famílias brasileiras, o Joio compilou dados fundamentais sobre a cultura dessa fruta
“Yes, nós temos banana, banana pra dar e vender” – dizia a marchinha imortalizada na voz do Almirante, a mais alta patente do rádio brasileiro. “Banana, menina, tem vitamina, banana engorda e faz crescer.”
Presente no rádio, nos bloquinhos de carnaval, mas também nas pencas sobre a cabeça de Carmen Miranda, enquanto ela e Dorival Caymmi explicavam “o que é que a baiana tem” em cena do filme “Banana da Terra”, de 1939.
É a segunda fruta mais produzida do Brasil – o país é o quarto maior produtor do mundo, atrás de Indonésia, Índia e China – e a primeira em termos de consumo. Apenas 2% da banana produzida em território nacional não é absorvida pelo mercado interno.
A última Pesquisa Agrícola Municipal, do IBGE, estimou em R$ 7,5 bilhões o valor da colheita nacional de banana em 2019.
Por conta da importância – social, cultural e econômica – dessa fruta, o Joio decidiu incluí-la na série de publicações “O Básico dos Básicos”, um compilado de informações relevantes sobre alguns dos principais produtos alimentares brasileiros: arroz, feijão, batata e carne.
Nesta página, você vai conferir as seguintes informações sobre a banana: evolução da produção anual, deslocamento geográfico do cultivo, fluxo de comércio interestadual, consumo per capita ao longo dos anos, preço de atacado, preço pago ao produtor, consumo de água e índice de perdas.
Evolução da produção anual
Entre 1975 e 2019, data de referência da última pesquisa da PAM, a produção brasileira de banana praticamente duplicou de tamanho: cresceu de 3,7 para 6,8 milhões de toneladas.
O aumento foi puxado por Estados com tradição no cultivo do fruto: Minas Gerais, São Paulo e Santa Catarina. Juntas, essas regiões foram responsáveis por um terço do ganho produtivo no período: 1 milhão de toneladas.
Deslocamento da produção
Os dados da Pesquisa da Produção Agrícola Municipal também mostram que a cultura da banana faz um ensaio de “subir” para o Norte – em especial rumo ao Amazonas e Pará – durante a década de 90.
No Pará, a produção começa a aumentar lentamente entre 1975 e 1980, atinge um pico em 2000, e depois começa a cair aos poucos, tomando um tombo entre 2015 e 2019.
No Amazonas há uma alta vertiginosa entre 1995 e 2000. A produção chega a se multiplicar por nove nesse período. Mas o fôlego é curto. Cinco anos depois, o Estado já produzia um terço daquilo que havia registrado no de início do século.
O crescimento da produção na região Norte é concomitante a uma queda sofrida pelo eixo tradicional de produção da banana – São Paulo, Bahia, Santa Catarina e Minas Gerais – durante a década de 90.
Naquele momento, esses Estados tradicionais chegam a ser alcançados em volume por Pará e Amazonas. Com o declínio dos dois últimos, a partir da virada do milênio, o eixo SP-BA-SC-MG retoma seu posto de liderança. Confira na animação a seguir.
Consumo per capita – As mais consumidas
De acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE, a banana prata é a mais consumida do Brasil. Em 2017 cada brasileiro comia, em média, três quilos dessa variedade por ano. Vice-campeã, a banana nanica (ou d’água) registrou consumo de 2,457 kg por habitante no mesmo período.
Mas há nuanças regionais. No Norte e no Nordeste, ao contrário das demais macrorregiões brasileiras, a variedade mais consumida é a banana prata, sem espaço para a banana nanica.
No Sudeste, Centro-Oeste e Sul, a nanica ganha, mas é por pouco. Por ali, a prata sempre bate de frente, com números próximos aos da sua concorrente.
O Acre é o único Estado onde a cultivar mais consumida, com boa vantagem, é a banana-da-terra (2,4 kg/ano). Ao lado de Goiás e Mato Grosso, esse Estado de fronteira também é um dos poucos onde há consumo significativo da banana-maçã (1,4 kg/ano).
Fluxo de comércio entre Estados
A partir de dados fornecidos pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), referentes às Centrais de Abastecimento (Ceasa) de São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Brasília, Goiânia, Curitiba, Vitória, Recife e Fortaleza, o Joio mapeou uma parte significativa do fluxo de comércio interestadual das bananas prata e nanica.
Na variedade prata, Minas Gerais figura como o maior “exportador”. Entre janeiro e outubro de 2020, comercializou 75 mil toneladas de banana com oito Estados. Na variedade nanica, venceu Santa Catarina, que distribuiu 30 mil toneladas de banana entre cinco unidades federativas.
Preço de mercado e preço pago ao produtor
Na primeira semana de março deste ano, o quilo de banana prata pago ao produtor estava cotado em R$ 1,13. A estimativa foi feita a partir de dados da Conab e representa uma média dos valores encontrados em 17 Ceasas espalhados pelo território nacional.
De acordo com outro agregador de preços, o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP), o valor médio do quilo de banana prata no atacado, em São Paulo, chegou a R$ 3,07 no mesmo período, levando em consideração as variedade prata “anã” e “litoral”.
Nenhum dos agregadores apresentou dados da prata praticados no varejo, ou dados de aferição ampla (mais de um Estado) para os valores pagos ao produtor nas demais variedades.
Consumo de água
Segundo o pesquisador Antônio Humberto Simão (2002), a quantidade de água necessária para a bananeira varia de 3 a 8 milímetros cúbicos diários.
Já no informe agropecuário “Irrigação da Bananeira”, de 1980, fala-se em um consumo anual de 1.200 a 1.800 mm, ao passo que para Robinson & Alberts (1989) esses valores podem variar de 1.200 a 2.690 mm, dependendo das condições climáticas locais.
Os valores e estudos que trazemos aqui foram citados pela primeira vez pelos pesquisadores do Departamento de Engenharia Agrícola da Universidade Federal de Viçosa (DEA-UFV) Wallisson Freitas, Márcio Ramos e Sidnei Costa, no estudo “Demanda de Irrigação da Cultura da Banana na Bacia do Rio São Francisco”.
A publicação “500 Perguntas e Respostas sobre a Banana”, apresentada ao Joio pelo pesquisador Gilberto Nascimento, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) do Acre, apresenta os seguintes valores: até os seis meses do plantio, com céu nublado e ar úmido, de 1 a 2 mm/dia. Nesse mesmo estágio, em dias ensolarados e secos, de 2 a 4 mm. Dos 7 aos 12 meses do plantio, em condições de céu nublado e ar úmido, de 2 a 3 milímetros. Em dias ensolarados e secos, de 4 a 6 mm.
O engenheiro agrônomo Lucas Trevisan, que também auxiliou a reportagem, informou o uso de cerca de 150 mm de água por mês, o que equivale a uma média de 5 mm diários. Ele trabalha junto à Associação dos Bananicultores de Corupá, em Santa Catarina.
Índice de perdas
Segundo um estudo elaborado pelo Ceasa Minas Gerais, a banana tem índices significativos de perda na lavoura, no varejo e nos domicílios.
De acordo com a pesquisa, os principais motivadores das perdas no campo são pragas e manejo inadequado, enquanto nos varejos o problema é o longo tempo de exposição, manuseio constante e armazenagem em locais impróprios. Confira na tabela a seguir.
O estudo “Banana Pós-Colheita”, produzido pela Embrapa em 1995, aponta índices de perda maiores na maior parte da cadeia de valor: 5% na lavoura; mais de 2% no processo de embalagem; de 6 a 10% no atacado (Ceasa); de 10% a 15% no varejo; e de 5 a 8% entre o consumidor final.
Já um estudo da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Botucatu comparou os diferentes índices de perda de acordo com os equipamentos de varejo no município. Descobriu-se que para todas as variedades de banana comercializadas, quitandas e sacolões tinham o maior índice de desperdício: 15%. Confira: