O que a Indústria do Fumo tem a ver com a alimentação?
A pergunta do título, que agora apresentamos a você que nos lê, é a mesma que nos fizemos por meses aqui no Joio, até chegar ao lançamento desta editoria, batizada de Indústria da Fumaça.
A resposta a essa questão? Bem, não há uma só. São várias as possibilidades que enxergamos e, certamente, a inteligência de quem acompanha o nosso trabalho de jornalismo investigativo vai encontrar outras que ainda não conseguimos formular. Estamos abertos à escuta.
Hoje, no entanto, vamos partir de dois elementos centrais comuns à indústria do tabaco e à indústria alimentícia, para que este texto de apresentação não se torne uma “tese” e porque as reportagens que virão falam por si.
No início dessa “relação”, uma parte, a do tabaco, foi a inspiração da outra, a alimentícia, para a formulação de estratégias de interferências negativas em políticas públicas de saúde no Brasil e no mundo, abusando do poder econômico e da consequente influência na política institucional, palco em que o papel do lobby moderno foi modelado pelas corporações do fumo e, depois, copiado pelas megaempresas de alimentos (a aproximação foi tão grande que corporações do tabaco chegaram a ser grandes acionistas de empresas de alimentos).
O outro ponto é a comunicação. Sempre em busca da sofisticação de instrumentos de propaganda e marketing, as faces públicas dessas indústrias nos bombardeiam há décadas. Desde a publicidade tradicional até formas mais sorrateiras, mas não menos impactantes no objetivo de “fazer a cabeça” do público, ambas estão em ação, numa condição de aprendizado compartilhado.
Nesse sentido, uma questão curiosa: se a indústria do fumo é que moldou o lobby como conhecemos, é a indústria de alimentos ultraprocessados, talvez já se preparando para um cenário de regulação futura, que atualmente inspira a do tabaco a usar estratégias para driblar as restrições impostas à publicidade do fumo.
Além desses pontos de conexão, é fundamental ressaltar que, apesar dos avanços inegáveis na diminuição de consumidores de cigarros no Brasil, os números absolutos ainda assustam, já que existem 20,4 milhões de fumantes no país – o equivalente a seis Uruguais.
“É preciso reduzir mais. E, para isso, o Brasil precisa urgentemente investir”, defende Tânia Cavalcante, da Comissão Nacional para a Implementação da Convenção-Quadro. Junto com outros pesquisadores, ela aponta de onde têm que vir esses recursos: do aumento de impostos cobrados da indústria da fumaça; o mesmo que pedem aqueles que estão empenhados em responsabilizar a indústria de alimentos ultraprocessados pelos impactos negativos causados na saúde pública.
No mais, a indústria do tabaco não acabou. Está bem viva, influente, na política, na economia, na saúde individual e coletiva . Causadora de muitos estragos sociais, segue matando.
É por esses motivos que o Joio – com o apoio da ACT Promoção da Saúde – inaugura esta editoria dedicada a investigar o mundo do tabaco.
Acima de tudo, estamos de olho em corporações que abusam do poder e violam direitos humanos fundamentais, até mesmo o direito à vida.
Este lançamento já nasce, então, aprofundado, com a publicação de um especial que traz reportagens reveladoras de como as corporações seguem abusando dos espaços sociais e dos governos.
E não pararemos por aí, porque, seja sob a velha forma de um “cigarro de papel”, seja sob o disfarce de novas tecnologias, a fumaça tóxica continua no ar…
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