O Joio e O Trigo convida jornalistas de todo o país para uma nova edição de nossas oficinas. Desta vez, o encontro terá como foco as relações entre uso da terra, corporações do sistema agroalimentar e agentes financeiros
Nos últimos anos, a bancada ruralista em Brasília conseguiu concretizar politicamente uma velha máxima: “O agro não cabe no orçamento público”. A criação e o aperfeiçoamento de títulos e fundos levaram, pela primeira vez, os investimentos privados no agro à casa de R$ 1 trilhão. Mas, como veremos, essa máxima ocultou a verdade – o agro segue se valendo de recursos públicos na forma de financiamento direto e indireto, estradas, ferrovias e portos.
A cada ano, o jornalismo brasileiro traz à tona mais evidências de problemas graves no uso desses recursos: grilagem, desmatamento, avanço sobre terras indígenas, trabalho escravo e concorrência com a produção de alimentos para a população brasileira. Essa nova montanha de dinheiro dá ainda mais força a esse processo.
Ao mesmo tempo, cada vez mais pessoas físicas são estimuladas a investir no setor cuja propaganda diz “alimentar o mundo”. Letras de crédito, ações e fundos de investimentos passaram a fazer parte do cardápio de bancos, enquanto influenciadores digitais do mundo financeiro dão a receita de como aportar recursos no agronegócio.
Pensando nisso, nossa oficina online terá a participação de pessoas de referência na investigação e na reflexão sobre o assunto. Participam Sergio Pereira Leite, professor titular da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ); Elisabetta Recine, professora da Universidade de Brasília e presidenta do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea); e integrantes da equipe do Joio. O encontro terá a mediação de Junior Aleixo, especialista de Justiça Climática da ActionAid e Grupo de Estudos sobre Mudanças Sociais, Agronegócio e Políticas Públicas da Federal Rural do Rio de Janeiro.
Elisabetta Recine tem sido uma pessoa central na compreensão do caráter sistêmico da alimentação, contribuindo para romper com o reducionismo nutricional. Ela é integrante do Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutrição da Universidade de Brasília. É a única brasileira no Comitê Diretivo do Painel de Alto Nível de Especialistas do Comitê de Segurança Alimentar Mundial da ONU (HLPE/CFS) e no Painel Internacional de Especialistas em Sistemas Alimentares Sustentáveis do IPES Food, um dos mais relevantes centros de pesquisa do setor. Era presidente do Consea quando o colegiado foi fechado, no primeiro dia de governo de Jair Bolsonaro, posição que retomou após a reabertura desse espaço de participação social, no governo Lula.
Na oficina, ela abordará os problemas relacionados ao sistema alimentar globalizado e como o poder corporativo afeta o direito humano à alimentação adequada e saudável.
Sergio Pereira Leite foi um dos pioneiros na investigação sobre o atrelamento entre mercado financeiro e terras. Já nos anos 90 conduziu o doutorado sobre a inserção internacional no financiamento da agricultura brasileira – à época, até mesmo o conceito de “agronegócio” ainda era incipiente entre as organizações do setor. De lá para cá, o titular do Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade (CPDA) da UFRRJ coordenou e orientou uma série de trabalhos que permitiram acompanhar e entender o crescente atrelamento entre agro e mercado financeiro.
Na oficina, ele falará sobre o histórico de estrangeirização e financeirização do agronegócio, abordando os impactos decorrentes desse processo.
O encontro também terá a participação de integrantes do Joio. Bruna Bronoski é bolsista do Rainforest Investigations Network do Pulitzer Center e investiga a conexão entre mercado financeiro e Amazônia. No Joio, ela tem explorado a conexão entre agro e mercado financeiro. Bruna falará sobre estratégias e ferramentas para a cobertura dessas relações.
Com ela estarão Tatiana Merlino, editora de Colapso Climático, e João Peres, diretor e editor do Joio. Eles falarão sobre a relevância de ter um olhar sistêmico para a cobertura de alimentação e elencarão caminhos para a investigação das relações entre agro e mercado financeiro.
Oficina online “Agro e mercado financeiro: caminhos para a cobertura jornalística”
18 de setembro de 2024, de 9h30 a 12h
Inscrições até 1.9 pelo formulário.
Podem se inscrever jornalistas e estudantes de jornalismo no último ano de graduação, de todas as regiões do país. 40 vagas.
Custo: após a divulgação das pessoas selecionadas, as inscrições serão confirmadas por meio de doação à Paróquia São Miguel Arcanjo ou de outra instituição, no valor de R$ 15 para estudantes e R$ 30 para profissionais.
Programação:
9h30 | Abertura e boas vindas – Tatiana Merlino e Junior Aleixo
9h40 | Panorama de investigações recentes sobre agro e mercado financeiro – João Peres
9h55 às 10h15 | Relações entre agro, cadeias internacionais e mercado financeiro – Sergio Pereira Leite
10h15 – 10h35 | Perguntas e comentários
10h40 às 11h00 | Sistema alimentar globalizado: histórico, problema e poder de corporações – Elisabetta Recine
11h às 11h20 | Perguntas e comentários
11h20 às 11h40 | Bruna Bronoski
11h45 a 12h10 | Diálogo final: como cobrir agro e mercado financeiro