Goela abaixo: por que Bolsonaro nos empurra o ‘ouro branco’?

Políticos sob suspeita de brindar ao racismo, pseudociência, negacionismo e desigualdades dentro do setor; as muitas faces de um copo de leite      

Um vídeo publicado na internet que mostra Jair Bolsonaro (sem partido) brindando com um copo de leite puro causou revolta no mês de maio. A publicação foi criticada por movimentos sociais e coletivos ativistas pela suspeita da relação do gesto com um movimento neonazista estadunidense, que usa o líquido como símbolo de crenças de supremacia.

O que pouca gente sabe é que, no mesmo mês, o presidente havia publicado outro vídeo, no qual um médico diz que “o que determina se uma pessoa vai viver ou morrer diante da contaminação pelo coronavírus é a imunidade” e, logo em seguida, desaconselha o consumo de leite e derivados. Por que será, então, que Bolsonaro está nos empurrando leite? 

A participação do presidente no chamado “Desafio do Leite” ocorreu, coincidentemente ou não, na semana do assassinato de George Floyd por um policial nos Estados Unidos, crime que gerou manifestações contra o racismo em várias partes do mundo.

No vídeo, Bolsonaro disse que não se tratava de propaganda para marca nenhuma e que “sempre tomou leite [puro]”. Isso, enquanto segurava um copo consideravelmente mais vazio do que os de Pedro Guimarães, presidente da Caixa Econômica Federal, e Jorge Seif Júnior, secretário de Aquicultura e Pesca. 

O gesto do presidente, na época, foi associado ao grupo neonazista Alt-Right, dos Estados Unidos, que tem o leite como símbolo do supremacismo branco. E o “desafio” foi bem aceito e abraçado por políticos e representantes do agronegócio do Brasil. 

Uma página no Instagram com 1.600 seguidores mostra que a campanha segue ativa. Participam nomes como Tereza Cristina, ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil, Alceu Moreira, deputado federal e Aline Sleutjes, também deputada federal – todos da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). Além deles, Damares Alves, ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, e Geraldo Borges, presidente da Associação dos Produtores de Leite (Abraleite), instituição que assina a autoria do movimento, também têm vídeos publicados. 


O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) é outro a participar da discussão. Ele publicou, no Twitter, trecho de uma propaganda antiga da marca Italac, que mostra os artistas Lázaro Ramos e Taís Araújo segurando copos com leite. Como legenda, apenas escreveu “Oiê”, mas, obviamente, a intenção era usar uma publicidade envelhecida para rebater a acusação de racismo dirigida à família e apoiadores.    


Mais um denunciado por coletivos ao publicar mensagem de teor neonazista nas entrelinhas foi o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, que disse, entre risadas, nas redes sociais, enquanto brindava com um copo de leite puro: “Entendedores entenderão”. Vale lembrar que o envolvimento ideológico de Santos com o governo é tão grande, que ele é considerado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) como uma das principais peças num esquema de fake news que rodeia Jair Bolsonaro.

Mensagens subliminares à parte, o The New York Times produziu, em 2018, uma matéria sobre a preocupação de cientistas diante do uso indevido de estudos genéticos para endossar discursos racistas de grupos de extrema direita.

É o caso de um artigo que analisa uma característica mais comum em pessoas brancas relacionada à capacidade de digerir lactose por adultos, usada por neonazistas como indício de superioridade. A mesma reportagem indica que essa particularidade também aparece em povos criadores de gado no oeste do continente africano.  

No mundo, segundo o Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos, aproximadamente 65% da população têm capacidade reduzida de digerir lactose após a infância. As menos afetadas são as populações com longo histórico de dependência de produtos lácteos não fermentados como fonte de alimento. 

Além da questão da intolerância à lactose, estudos da Escola de Medicina de Harvard sugerem que o alto consumo de lácteos pode aumentar o risco de casos de câncer de ovário e de próstata, bem como problemas cardiovasculares. A instituição oferece em vários idiomas um guia do prato saudável, que não inclui lacticínios – leite condensado, Iogurte, bebidas lácteas, leites fermentados, fórmulas infantis, sorvetes industrializados, cream cheese, creme de leite, entre outros – e mostra “como opcionais e de consumo limitado”. 

Copos mais cheios, copos mais vazios

Os representantes da agropecuária são persistentes. Uma recente reportagem do Bureau of Investigative Journalism mostra que bilhões de dólares têm sido injetados na indústria de carne e leite do mundo nos últimos dez anos por bancos de desenvolvimento, mesmo com os supostos compromissos dessas instituições financeiras de combater as mudanças climáticas. O International Finance Corporation (IFC), braço de empréstimos do Banco Mundial, e o Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento (EBRD) destinaram 2,6 bilhões de dólares americanos para a criação de animais e processamento de laticínios e carne nos últimos dez anos. 

Por aqui, não é diferente. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Banco Regional de  Desenvolvimento do Extremo Sul foram colocados como aliados da Frente Parlamentar da Agropecuária durante uma transmissão ao vivo realizada em 6 de julho, na página da organização no Facebook.

O debate era sobre os desafios da pequena produção e indicou que um plano de apoio está no planejamento. A discussão é parte do Fórum de Incentivo à Cadeia Leiteira, uma série programada para conversar semanalmente com as diferentes partes do setor que vêm enfrentando dificuldades. 

O Banco do Brasil foi citado no evento, bem como a Caixa Econômica Federal, com o uso do nome do presidente da Instituição, Pedro Guimarães. Com ele, a FPA teria um “contato muito grande”, segundo a deputada Aline Sleutjes (PSL-PR), que mediou a conversa. É bom lembrar: Guimarães é um dos que aparece ao lado de Bolsonaro no vídeo do “Desafio do Leite”. 

A primeira transmissão ao vivo da série foi dedicada aos pequenos produtores, que há anos alegam enfrentar problemas, principalmente pelos altos custos de produção e pela baixa remuneração. 

Um dos produtores mencionou sobre a dificuldade de unir um grupo “tão grande no país” em comparação ao número concentrado de fabricantes de laticínios que compram a matéria-prima. 

Houve, ainda, quem reclamasse da volatilidade dos preços pagos e comparasse a situação de um pequeno produtor a de um funcionário assalariado, mas que trabalha o mês inteiro sem saber quanto vai receber ao final.

“É nossa obrigação, como produtores, determinar o quanto vale o nosso produto. Nós temos condições para isso. Por que o mercado não nos deixa fazer isso?”, questionou Gislaine Oliveira dos Santos Gomes, da Cooperativa dos Produtores Agropecuários de Dracena (Coopadra). 

Há queixas sobre condições básicas, como frequente falta de energia elétrica nas regiões rurais por dias seguidos e a má qualidade das estradas. Os produtores temem a falta de sucessão familiar no setor e enfatizam o êxodo da juventude para as cidades. 

Aline Sleutjes comentou a existência de um plano para a cadeia leiteira, com 14 metas para “melhorar a vida e o incentivo ao produtor”. Ela garantiu que já  tramitam vários projetos de lei no Legislativo Federal e cita o Programa de Aquisição de Alimentos, na modalidade PAA Leite, que ganhou nova resolução recentemente.  

As novidades, segundo a Resolução nº 82, publicada no Diário Oficial da União no dia 1º de julho, são “por maior transparência na execução do Programa, além da inclusão de um capítulo com metodologia para distribuição dos recursos entre os estados”. 

O texto saiu do Ministério da Cidadania, responsável pela iniciativa que deve entregar alimentos da agricultura familiar a famílias em situação de insegurança alimentar e nutricional. Na modalidade leite, os beneficiários devem ser residentes de estados da região Nordeste do país e da região norte de Minas Gerais. 

Com a resolução, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) passa a regular os preços pagos ao produtor inscrito no PAA Leite. Marisson de Melo Marinho, gerente de Apoio aos Negócios e a Comercialização de Empreendimentos Familiares da Conab, fala que as reclamações sobre o preço pago ocorrem há muito tempo, comparando com as outras modalidades do PAA. 

Ele explica que isso se dá porque são usadas diversas bases de dados para extrair uma média das flutuações de mercado dos últimos meses e o preço pago é de atacado, seguindo normas do grupo gestor do PAA – composto por Ministério da Cidadania, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Secretaria Especial de Agricultura Familiar e Desenvolvimento Agrário, Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, Ministério da Fazenda e Ministério da Educação. 

Para participar da política pública na modalidade leite, que é de fornecimento exclusivo à região do semiárido brasileiro, os produtores devem entregar o leite já pasteurizado, o que torna necessária a passagem do produto por algum laticínio. Dessa forma, mesmo vendendo para o poder público, o pequeno produtor segue à mercê da indústria. 

Quando questionada pela reportagem sobre a eficácia do programa para os pequenos produtores, a assessoria do Ministério da Cidadania informou: “Verifica-se que, ao longo dos anos, as próprias cooperativas da agricultura familiar começam a se estruturar para pasteurização do leite produzido pelos cooperados. Atualmente, 30% da pasteurização é feita por cooperativas da agricultura familiar”. 

Olhemos de outra perspectiva: o que nos chama a atenção é que 70% do processo de pasteurização não são produzidos pela agricultura familiar. 

“Ouro branco”: nas mãos de poucos  

Uma matéria do Valor Econômico mostra o aumento da concentração da produção brasileira de leite por parte dos 13 principais fabricantes de laticínios do país. Essa presença foi elevada em 4,10% em 2019, mesmo com a queda de 7,10% no número de produtores. Isso ocorre porque, segundo o texto, o volume de entrega do produtor aumentou em 8%.

Para o crescimento da grande produção, estímulos não faltam. No fim de 2019, a empresa Languiru apresentou o programa “Mais Leite Entressafra 2020”, oferecendo R$ 0,30 para cada litro excedente do produtor que entregasse volumes acima dos 80% da média produzida no período da safra. Fundada por pequenos agricultores em 1955, a cooperativa galgou novas escalas de produção e, hoje, atua em diferentes municípios do Rio Grande do Sul, nos segmentos de aves, suínos, embutidos, laticínios, rações, varejo, farmácia e combustíveis.

O litro de leite integral da marca era vendido por R$ 3,22 na loja Zmart – empresa on-line que entrega produtos disponíveis na rede Zaffari -, na semana do fechamento desta matéria. 

Para o Ministério da Cidadania, “ao gerar mercado para a comercialização de leite de cabra e de vaca, o PAA Leite garante renda para os agricultores familiares que possuem poucas ‘cabeças’ e, em geral, teriam dificuldades de acesso ao mercado formal. Assim, a iniciativa garante fornecimento de alimento de alto índice proteico para famílias em situação de vulnerabilidade social”, 

Enilce Sally, professora adjunta da Faculdade de Nutrição Emília de Jesus Ferreiro, da Universidade Federal Fluminense (UFF), acredita não ser apenas uma questão nutricional.

“Essa evidência dada ao leite por ações do governo articuladas nos ministérios serve para atender aos interesses econômicos da pecuária. Nós sabemos que na Câmara e no Senado há uma base de sustentação do governo Bolsonaro, formada por empresários do agronegócio”. 

A nutricionista, que é doutora em Saúde da Mulher e da Criança e integra a Rede Internacional em Defesa do Direito a Amamentar, lembra que o objetivo do Programa de Aquisição de Alimentos é “apoiar o pequeno agricultor e valorizar a biodiversidade e a produção orgânica e agroecológica de alimentos”. 

“Não resta dúvida de que o leite é um alimento nutritivo, porque contém nutrientes importantes para a promoção e manutenção da saúde”, diz Enilce. 

Contudo ela destaca que o produto acaba por ganhar outros papéis. Esse protagonismo dado ao alimento nas dieta se deve, segundo a pesquisadora, a “uma cultura que está enraizada desde nosso processo de colonização e que ganha reforço por parte de profissionais de saúde.”

E são muitos os interessados no “ouro branco”. É o caso da campanha #bebamaisleite que, desde 2016, incentiva o consumo de leite por meio de conteúdos e ações, como campanhas de doação e palestras. Além do site, que conta com uma loja de itens que referenciam o leite, como camisetas e canecas. Há também páginas e canais no Facebook, Instagram e YouTube

Quem encabeça o movimento são duas mulheres, Flávia Fontes e Ana Paula Menegatti, mães e médicas veterinárias. 

“Em menos de dois anos, o “movimento” já conseguiu atingir mais de cem mil mães e formadores de opinião (blogueiras e digital influencers) com ações presenciais e on-line”, informa o site. 

O público-alvo fica explícito na seção “Para as mães”, que conta com conteúdos como “Estudo sugere que crianças obesas que bebem leite têm menor risco de síndrome metabólica”, “Sete motivos para dar bastante leite ao seu filho” e “Leites vegetais reduzem o crescimento das crianças”. 

Alguns textos indicam pesquisas científicas nas quais teriam sido embasados. O problema é que, em vários, figura o nome de Jonathon Maguire, pediatra canadense que tem relação de longa data com a indústria de laticínios – como mostra reportagem do site britânico Ars.

Outros conteúdos direcionam o leitor para sites como o Splash!, cujos patrocinadores incluem Nutricia Danone e Arla Foods – duas das maiores empresas de laticínios do mundo. 

Para Enilce Sally, trata-se de” um exemplo de como a indústria obtém espaço para falar com o consumidor, sustentando estratégias comerciais por meio de embasamento “científico” para alcançar credibilidade. 

A iniciativa conta com apoiadores que têm nomes famosos do agronegócio como Bayer, Tetra Pak, Aviação, Xandô e Agrifirm, além da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite). 

Quando questionada sobre a natureza do movimento e o tipo de relação com as marcas, a responsável pela comunicação da iniciativa conta que recebem “uma mensalidade” das empresas. Ainda assim, enfatiza se tratar de um “movimento independente de divulgação de pesquisa científica sobre o consumo do leite”. 

Apesar de enfatizar a independência e que não há cunho publicitário, é possível encontrar, logo na página inicial do site, uma chamada com foto para um texto sobre a nova embalagem do leite Xandô, empresa fundada no interior de São Paulo em 1872 e que, hoje, além de laticínios, comercializa suco de laranja. 

Já na página no Facebook, a pandemia de covid-19 é motivo de diversas campanhas de doação e arrecadação de dinheiro para compra e entrega de leite a instituições e municípios onde a Agrifirm possui filiais. A empresa está presente em Taió (Santa Catarina), Maripá (Paraná) e Itupeva (São Paulo) e faz parte do Royal Agrifirm Group, cooperativa agrícola de origem holandesa que conta com uma rede de dez mil membros espalhados por 16 países.

As ações fazem parte do programa “Corações Lácteos”, que tem como objetivo “estimular que outros corações se unam aos nossos”, segundo o site, e é fruto da parceria entre o #bebamaisleite e a Viva Lácteos – Associação Brasileira de Laticínios. A última representa a indústria de lácteos e soma 37 marcas do setor no Brasil, responsáveis por 70% da produção de leite e derivados no país, de acordo com informações institucionais do grupo.


A campanha de arrecadação, cuja realização é da Bayer e da Catosal, conseguiu a quantia de R$ 4.362 mil, ínfima se comparada com o faturamento dessas corporações.

Uma publicação na página em letras praticamente ilegíveis traz a seguinte mensagem: “É esclarecido que a entidade Beba Mais Leite (representada pela Integral Comunicação) é uma empresa independente da Bayer e que a Bayer apenas cedeu espaço no evento. Não coordenará, tão pouco se envolverá na arrecadação ou distribuição das arrecadações”.

Bolsonaro e as empresas

“Parceiro do agro e raçudo”, assim foi definido Jair Bolsonaro na abertura do último episódio da série de transmissões sobre a cadeia leiteira na página da Frente Parlamentar da Agropecuária no Facebook.

“Ele, que esteve aí no nordeste, até montou numa égua branca. E mostrou que ele é da terra. O homem não tem medo. Ele é raçudo. Ele cuida do interior. E é isso que nos faz acreditar num país cada vez melhor”, disse Aline Sleutjes, mediadora da conversa, que, na oportunidade, tratava de políticas públicas.

O engajamento do governo com o setor foi reafirmado pelas diferentes vozes convidadas. Participaram Roneil Volpi, presidente da Câmara Setorial do Leite, Márcio Madalena, do Ministério da Agricultura, Ênio Marques, representante do Ministério da Cidadania, Feliciano Nogueira, diretor-técnico da Emater-MG, Rogério Boueri, do Ministério da Economia, e Paulo Martins, diretor técnico da Embrapa-MG. 

Profissionalização, assistência técnica e métodos de precificação antecipada foram alguns dos tópicos abordados para dar conta do “caráter social” que tem a produção e das frequentes reclamações dos produtores “da porteira para dentro”, como são chamados os pecuaristas de leite. 

Linhas de crédito especiais também foram tema, como a Medida Provisória 957/20, que oferece crédito de R$ 500 milhões para o Ministério da Cidadania aplicar em segurança alimentar e nutricional durante a pandemia. O PAA Leite receberá parte das verbas, caso a MP, que aguarda decisão do Congresso Nacional, seja aprovada.

E as medidas prometidas vão além dos subsídios aos produtores. Conscientização de consumo é uma tecla batida várias vezes. Isso porque, segundo a deputada Aline Sleutjes, o Brasil “bebe pouco leite e come poucos derivados”. Ela comenta que há quem diga que o produto é caro, mas compara com os preços de cervejas e refrigerantes, e afirma que “tem lugar que o leite é mais barato que a própria água”.

Há uma preocupação também em combater o “mau uso” da palavra leite, ou seja, de evitar a utilização em produtos que não o têm na composição. Não que a preocupação esteja voltada a ultraprocessados e produtos vendidos como lácteos com ínfima quantidade de leite, mas da disputa com os “leites” vegetais. 

“Eu nunca vi uma soja ser ordenhada”, comenta Márcio Madalena. “Já vi vaca ser ordenhada, cabra ser ordenhada, mas, vegetal, não”, complementa, insistindo que a comunicação deve ser trabalhada para acompanhar o trabalho da ministra Tereza Cristina pela abertura do mercado. 

Por falar em ultraprocessados, o Guia Alimentar para a População Brasileira foi apontado no evento como outro alvo a ser combatido. Isso porque carrega “ranços ideológicos”, de acordo com  Roneil Volpi. 

“Governos, temos que resolver essa questão com o Ministério da Saúde, para resolver de uma forma baseada em ciência e não baseada em ideologia”, pediu o presidente da Câmara Setorial do Leite. 

Pedido prontamente abraçado pelo representante do Ministério da Cidadania, que assumiu, ao vivo, o compromisso de resolver a questão. “É um grande equívoco essa classificação que se pratica”, disse Ênio Marques, para quem ultraprocessado  “não existe”. 

O encontro deixa explícito quais são os principais objetivos do setor, pelo menos para aqueles que vão direcionar os próximos passos da caminhada pelo “resgate do leite”. 

Um resgate que, como se vê, embora com uma ou outra divergência entre os grupos, tem as lideranças bem alinhadas ao “agro e raçudo” Bolsonaro e ao negacionismo de plantão do governo federal.

Para bom entendedor, pingo é letra. Mas não custa reforçar: que os defensores da boa ciência e do Guia Alimentar se preparem.   

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