Hoje, falar de comida também é falar de lixo: Coca-Cola, Nestlé, Danone e Unilever são as maiores produtoras de embalagens plásticas do mundo, e ninguém sabe o que fazer com essa sujeira.
Nosso sistema alimentar é orientado por essas e outra meia dúzia de grandes corporações que dominam o mercado e nos entopem de ultraprocessados – armazenados em embalagens descartáveis. Pacotes, garrafas e latinhas, que deveriam ser reciclados ou direcionados a um aterro sanitário, vão parar em rios, mares, ruas e vielas.
No Brasil, há uma lei para impedir que isso aconteça: a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que completou uma década em 2020. Ela não funcionou, e decidimos investigar o porquê.
Os meses de apuração para esta reportagem especial revelaram uma montanha de dados conflitantes, omissão do poder público, estratégias corporativas para minar soluções legislativas e conflitos de interesses cabais. Também conversamos com os catadores de materiais recicláveis, que têm carregado nas costas o peso da irresponsabilidade dos outros atores envolvidos no manejo dos resíduos: empresas e poder público.
Saiba por que o Brasil (também nesse aspecto) está parado no tempo – ou em cima de uma montanha crescente de lixo.
Uma década após o nascimento da Política Nacional de Resíduos Sólidos, eliminamos mal o que consumimos e ainda estamos entre os países campeões na produção de plástico.
A “responsabilidade compartilhada” – estabelecida em 2010 pela Política Nacional de Resíduos Sólidos e que caberia a todos os atores da cadeia – só existe no papel.
Os bastidores da tramitação da PNRS revelam conflitos de interesses e alianças que viraram casamento com divisão de bens. A indústria, como sempre, saiu ganhando.