Pesquisa feita a pedido do Joio mostrou altas quantidades de açúcar e gordura nos produtos da empresa
70% dos produtos da Nestlé vendidos no Brasil em 2017 continham excesso de açúcar e 52% continham excesso de gorduras saturadas, de acordo com os critérios estabelecidos pelo Perfil Nutricional da Organização Pan-Americana de Saúde, a Opas.
A descoberta é de um levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, o Idec, a pedido do Joio.
As pesquisadoras responsáveis pelo levantamento aplicaram os critérios do Perfil de Nutrientes da Opas a uma base de dados com 301 produtos da Nestlé construída em 2017, abrangendo todos os produtos da marca encontrados em cinco supermercados de diferentes regiões do país.
Para ser considerado excessivo em açúcar pelos critérios da Opas, um produto deve ter 10% ou mais de seu valor energético total (em quilocalorias) proveniente de açúcares livres. O mesmo critério vale para gorduras saturadas.
Procurada pelo Joio, a Nestlé afirmou que reduziu significativamente as quantidades de açúcar e sódio de seus produtos na última década, mantendo-os sob constante reavaliação.
“Somente nos últimos 3 anos retiramos, em nosso mercado, mais de 390 toneladas de sódio, 5.000 toneladas de gorduras saturadas e 8.000 toneladas de açúcar dos nossos produtos”, diz a nota encaminhada pela empresa.
Em maio deste ano o jornal britânico Financial Times revelou que, em documentos internos, a Nestlé reconhece que 60% do seu portfólio não atinge “patamares reconhecidos de saúde”, e que “não há reformulação possível que conseguiria transformar algumas categorias e produtos da empresa em produtos saudáveis”.
O levantamento do Idec mostrou que, ao serem submetidos aos critérios da Opas, 24% dos produtos da Nestlé receberiam um alerta de excesso de conteúdo nutricional, 25% receberiam simultaneamente dois alertas, 35% receberiam três alertas e 5% quatro alertas, ao passo que dois produtos receberiam cinco alertas simultâneos, e 8,3% do portfólio não receberia nenhum alerta de conteúdo nutricional.
O Perfil Nutricional da Opas prevê seis alertas de conteúdo nutricional, que indicam excesso de sódio, açúcares livres (adicionados), gorduras saturadas, trans, totais, e presença de adoçantes artificiais (edulcorantes).
A situação muda quando se utiliza o perfil de nutrientes definido pela Anvisa. Esse modelo será utilizado a partir de 2022 para decidir quais produtos devem utilizar lupas que informem sobre o excesso de nutrientes. Nesse caso, 44,9% dos produtos da Nestlé não teriam nenhum alerta. E apenas 1,7% teriam três alertas. No geral, açúcares adicionados figuram como maior questão, com 46,8% dos produtos apresentando excesso – frente a 20,3% para gorduras saturadas e 10% para sódio.
Um dos produtos que receberia simultaneamente cinco alertas de conteúdo nutricional é o Iogurte Ninho Zero Lactose, produzido pela Nestlé e voltado ao público infantil. A bebida tem alto conteúdo de gorduras totais, saturadas, açúcares livres, sódio e presença de adoçantes.
Por fim, a análise também mostra que alguns segmentos de produtos da Nestlé merecem atenção especial. É o caso das refeições prontas, em que 100% dos produtos contêm excesso de sal, e dos chocolates, em que 100% dos produtos têm excesso de gorduras saturadas.
O levantamento completo abrange outras oito grandes empresas da indústria alimentícia nacional – BRF, JBS, Vigor, Danone, Mãe Terra, Unilever, Mondelez e M. Dias Branco – e pode ser acessado aqui.