O Joio e O Trigo

Os estragos causados pelos ultraprocessados. Em três dimensões

O volume de evidências sobre os problemas causados por ultraprocessados cresce a cada ano. Esta tem tudo para ser a década em que se tornou impossível negar os efeitos negativos de salgadinhos, biscoitos, alguns pratos congelados, alguns iogurtes, achocolatado e companhia ilimitada. 

Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), da Fiocruz, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Universidad de Santiago de Chile calculou, pela primeira vez, o número de mortes prematuras (de 30 a 69 anos) associadas ao consumo de ultraprocessados no Brasil: são aproximadamente 57 mil óbitos por ano, com base em dados de 2019.

Criada em 2009, a partir do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da USP, a classificação NOVA se propôs a dividir os alimentos por grau e propósito de processamento. Se os primeiros anos foram marcados por muitos embates em torno da solidez dessa ideia, os mais recentes têm trazido um grande volume de evidências de impactos à saúde e ao meio ambiente.

Em um artigo recente para a Nature Food, Carlos Monteiro e Gyorgy Scrinis definem três tipos de impactos negativos dos ultraprocessados. O primeiro é professor da Faculdade de Saúde Pública da USP e criador da NOVA. O segundo é professor da Escola de Agricultura e Alimentos da Universidade de Melbourne, na Austrália, e autor do livro Nutricionismo (Joio e Elefante, 2020). 

O artigo elenca a necessidade de suprir lacunas científicas importantes relacionadas aos ultraprocessados, e de criar políticas públicas que levem em conta todos esses níveis de impactos negativos. 

1. No nível nutri bioquímico

A que se refere? Aos impactos no nível dos nutrientes, e também ao nível dos não nutrientes, ou seja, de aspectos químicos e biológicos dos ultraprocessados.

No nível dos nutrientes, a grande maioria dos ultraprocessados é desbalanceada. Existe excesso no nível dos nutrientes críticos (sal, açúcares, gorduras saturadas e densidade energética), e escassez no nível dos nutrientes que devem ser promovidos (por exemplo, fibra).

De maneira preliminar, pesquisadores têm se perguntado sobre os aspectos químicos e biológicos dos ultraprocessados. Existem enormes dúvidas sobre os efeitos de compostos químicos, hidrogenação e uso de aditivos, entre muitas outras questões.

2. No nível dos alimentos

A que se refere? Além de desbalanceados, os ultraprocessados são, em termos de alimentos, reconstituídos e artificializados.

Basicamente, os ultraprocessados são criados à base de técnicas e ingredientes reconstituídos, ao passo que ingredientes integrais são a exceção, e não a regra.

Por exemplo, um biscoito de leite é feito com soro de leite, gordura vegetal e aditivos.

Nesse sentido, os ultraprocessados criam uma contradição inerente: são alimentos que não nutrem. Esse problema é criado tanto por aquilo que há em excesso nos ultraprocessados, como por aquilo que falta em termos de ingredientes integrais.

3. No nível dos padrões alimentares

A que se refere? Ao substituir alimentos tradicionais, os ultraprocessados criam um novo padrão alimentar, que tem como característica central ser um padrão não saudável.

Ao longo das últimas décadas, alimentos in natura têm sido a vítima primária do avanço dos ultraprocessados. Nos Estados Unidos e no Reino Unido, pode-se falar em um padrão alimentar baseado em ultraprocessados, já que esses produtos correspondem a mais da metade da disponibilidade calórica diária.

Isso é especialmente preocupante em relação a populações em situação de insegurança alimentar, uma vez que os ultraprocessados entram no lugar dos poucos alimentos capazes de prover os nutrientes necessários para um padrão saudável.

O volume de evidências sobre os problemas causados por ultraprocessados cresce a cada ano. Esta tem tudo para ser a década em que se tornou impossível negar os efeitos negativos de salgadinhos, biscoitos, alguns pratos congelados, alguns iogurtes, achocolatado e companhia ilimitada. 

Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), da Fiocruz, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Universidad de Santiago de Chile calculou, pela primeira vez, o número de mortes prematuras (de 30 a 69 anos) associadas ao consumo de ultraprocessados no Brasil: são aproximadamente 57 mil óbitos por ano, com base em dados de 2019.

Criada em 2009, a partir do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da USP, a classificação NOVA se propôs a dividir os alimentos por grau e propósito de processamento. Se os primeiros anos foram marcados por muitos embates em torno da solidez dessa ideia, os mais recentes têm trazido um grande volume de evidências de impactos à saúde e ao meio ambiente.

Em um artigo recente para a Nature Food, Carlos Monteiro e Gyorgy Scrinis definem três tipos de impactos negativos dos ultraprocessados. O primeiro é professor da Faculdade de Saúde Pública da USP e criador da NOVA. O segundo é professor da Escola de Agricultura e Alimentos da Universidade de Melbourne, na Austrália, e autor do livro Nutricionismo (Joio e Elefante, 2020). 

O artigo elenca a necessidade de suprir lacunas científicas importantes relacionadas aos ultraprocessados, e de criar políticas públicas que levem em conta todos esses níveis de impactos negativos. 

1. No nível nutri bioquímico

A que se refere? Aos impactos no nível dos nutrientes, e também ao nível dos não nutrientes, ou seja, de aspectos químicos e biológicos dos ultraprocessados.

No nível dos nutrientes, a grande maioria dos ultraprocessados é desbalanceada. Existe excesso no nível dos nutrientes críticos (sal, açúcares, gorduras saturadas e densidade energética), e escassez no nível dos nutrientes que devem ser promovidos (por exemplo, fibra).

De maneira preliminar, pesquisadores têm se perguntado sobre os aspectos químicos e biológicos dos ultraprocessados. Existem enormes dúvidas sobre os efeitos de compostos químicos, hidrogenação e uso de aditivos, entre muitas outras questões.

2. No nível dos alimentos

A que se refere? Além de desbalanceados, os ultraprocessados são, em termos de alimentos, reconstituídos e artificializados.

Basicamente, os ultraprocessados são criados à base de técnicas e ingredientes reconstituídos, ao passo que ingredientes integrais são a exceção, e não a regra.

Por exemplo, um biscoito de leite é feito com soro de leite, gordura vegetal e aditivos.

Nesse sentido, os ultraprocessados criam uma contradição inerente: são alimentos que não nutrem. Esse problema é criado tanto por aquilo que há em excesso nos ultraprocessados, como por aquilo que falta em termos de ingredientes integrais.

3. No nível dos padrões alimentares

A que se refere? Ao substituir alimentos tradicionais, os ultraprocessados criam um novo padrão alimentar, que tem como característica central ser um padrão não saudável.

Ao longo das últimas décadas, alimentos in natura têm sido a vítima primária do avanço dos ultraprocessados. Nos Estados Unidos e no Reino Unido, pode-se falar em um padrão alimentar baseado em ultraprocessados, já que esses produtos correspondem a mais da metade da disponibilidade calórica diária.

Isso é especialmente preocupante em relação a populações em situação de insegurança alimentar, uma vez que os ultraprocessados entram no lugar dos poucos alimentos capazes de prover os nutrientes necessários para um padrão saudável.

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