O Joio e O Trigo

Cátedra Josué de Castro, Joio e Bori promovem oficina para jornalistas que aborda complexidades, desafios e contradições das “carnes cultivadas”

Encontro será online e voltado a jornalistas e estudantes de jornalismo no último ano de graduação de todas as regiões do país. Os participantes poderão concorrer a duas bolsas de reportagem no valor de R$8 mil cada


No dia 5 de dezembro, O Joio e O Trigo, a Cátedra Josué de Castro da USP e a Agência Bori realizam uma oficina para formação de jornalistas com o tema das novas tecnologias alimentares, especialmente as que se apresentam como fontes proteicas alternativas à proteína animal “convencional”, como é o caso das carnes produzidas em laboratório a partir de células animais e dos produtos lácteos produzidos a partir de fermentação.

As “comidas do futuro”, prometidas desde o século passado, finalmente chegaram? Finalmente será cumprido o desejo de separar alimento e natureza? Ou estamos diante de uma bolha especulativa de startups financiadas pelo Vale do Silício? A oficina “A comida do futuro vem de laboratórios?” tem o objetivo de apresentar essas novas tecnologias e fazer uma reflexão acerca das complexidades e necessidades de sua implantação, abordando o discurso de uma “transição proteica”, as motivações para o desenvolvimento desses novos produtos e os dilemas filosóficos e regulatórios decorrentes dessas inovações. 

Para o debate, participam os professores John Wilkinson (UFFRJ) e Ricardo Abramovay (Cátedra Josué de Castro/USP), e a nutricionista Nadine Marques (Cátedra Josué de Castro/USP).  A mediação será do jornalista João Peres (O Joio e O Trigo).

O momento não poderia ser mais propício: em tese, esses produtos começariam a chegar ao Brasil em 2024. Singapura e Estados Unidos, os dois primeiros países a regulamentar essa produção, têm uma pequena e caríssima oferta de carnes cultivadas. Por aqui, a BRF promete trazer os produtos da Aleph Farms, uma startup israelense que integra o pequeno grupo de empresas habilitadas a operar usando essas técnicas. Já a JBS lançou em Santa Catarina um laboratório voltado ao tema. 

Apesar de a crítica à Revolução Verde estar presente no discurso das startups, a indústria da carne não faz oposição à indústria da carne cultivada: a ideia é incluir mais um produto à cesta de consumo, em um mercado explicitamente voltado aos “flexitarianos”, pessoas que desejam consumir carne, mas têm preocupações com o bem-estar animal ou com o papel da pecuária na crise climática. 

A divisão ideológica dá uma dimensão dos dilemas criados em torno do assunto. Por exemplo, o jornalista e escritor George Monbiot, um conhecido crítico das corporações do sistema agroalimentar, é um entusiasta das novas tecnologias, e as enxerga como um caminho para resolver os enormes problemas criados pela pecuária e pela criação de animais em cativeiro. Já a extrema-direita italiana se mobilizou para proibir esses produtos, enxergando-as como um atentado à cultura nacional.  O Brasil, grande ator da pecuária global, surge nas projeções como um alto consumidor de carnes produzidas em laboratório. Será?



Oficina online “A comida do futuro vem de laboratórios?”

05 de dezembro de 2023 – 10h (horário de Brasília)

Duração: 2h e 30 minutos.

Inscrições: de 06 a 17 de novembro de 2023, pelo formulário.
Podem se inscrever jornalistas e estudantes de jornalismo no último ano de graduação, de todas as regiões do país. 40 vagas.

Custo: após a divulgação das pessoas selecionadas, as inscrições serão confirmadas por meio de doação à Paróquia São Miguel Arcanjo, no valor de R$10 para estudantes e R$20 para profissionais. 

Microbolsas: Os participantes poderão concorrer a duas microbolsas de reportagem no valor de R$ 8 mil reais cada.  A ideia é encorajar a realização de investigações originais, de alto impacto, abordando temas relevantes para a sociedade. As regras para participar do concurso serão conhecidas no próprio encontro. 

Sobre os convidados:

John Wilkinson é professor titular da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro no Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade (CPDA/UFRRJ) e autor do livro “O mundo dos alimentos em transformação”.

Ricardo Abramovay é professor titular da Cátedra Josué de Castro e professor sênior do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo. Fez sua carreira acadêmica no Departamento de Economia da FEA, onde se tornou professor titular em 2001. É autor de “Infraestrutura para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia”  e “Amazônia”.

Nadine Marques é pesquisadora da Cátedra Josué de Castro, nutricionista, mestra e doutora em Saúde Pública, com enfoque na ciência da Nutrição e sua incorporação da sustentabilidade, pelo Programa de Saúde Pública da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. 

Programação:

10h. Abertura e boas vindas

10h10. Breve panorama sobre carnes de laboratório, produtos plant-based, carnes de insetos e outras técnicas de produção de “proteínas alternativas” – João Peres, O Joio e O Trigo

10h20. O Mundo dos Alimentos em Transformação – John Wilkinson, UFRRJ

10h45. Desmistificar a obsessão proteica para um sistema agroalimentar sustentável- Ricardo Abramovay, Cátedra Josué de Castro

11h10. Estamos diante de um Nutricionismo repaginado? – Nadine Marques, Cátedra Josué de Castro

11h30. Intervalo

11h40. Debate

12h20. Encerramento

Quem promove:

Cátedra Josué de Castro de Sistemas Alimentares Saudáveis e Sustentáveis é um espaço interdisciplinar de reflexão e produção de conhecimento sobre sistemas agroalimentares. Criada em 2021 e sediada na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, busca ampliar o olhar sobre sistemas alimentares a partir das perspectivas do cidadão, da saúde e do meio ambiente.

O Joio e O Trigo é um projeto jornalístico especializado na investigação sobre alimentação e doenças crônicas. Desde 2017 expomos como estratégias corporativas interferem e afetam uma alimentação adequada, e buscamos entender como é possível construir sistemas alimentares saudáveis. 

Agência Bori é um serviço único no Brasil que apoia a cobertura da imprensa de todo o país à luz de evidências científicas. Jornalistas encontram na Bori pesquisas inéditas de diversas áreas produzidas por instituições e cientistas brasileiros. Fundada em 2020, a Bori também realiza treinamentos e mantém um banco de fontes especializadas nas áreas de Sistemas Alimentares, Saúde e Amazônia.

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